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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

David Harvey: A crise da urbanização planetária

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http://outras-palavras.net/outrasmidias/?p=96509


David Harvey: A crise da urbanização planetária

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Que significa a resistência dos que lutam pela Tarifa Zero, num mundo em que metrópoles parecem cada vez mais marcadas por desigualdade, violência e controle social
Por David Harvey, no blog da Boitempo
Com uma nova temporada de manifestações inaugurada em 2015, o Blog da Boitempo publica este ensaio de David Harvey, escrito originalmente para o catálogo da exibiçãoUneven Growth: Tactical Urbanisms for Expanding Megacities, em 18 de novembro de 2014, logo após sua visita ao Brasil para o ciclo de conferências “A economia política da urbanização“, em que lançou o volume final de seu guia de leitura sobre O capital de Marx, em Brasília, Recife, Fortaleza, Curitiba e São Paulo. Partindo de uma reflexão sobre as Jornadas de  Junho 2013 e seu lugar no contexto das explosões de rua que vêm pipocando ao redor do mundo, Harvey diagnostica o que chama de uma “crise da urbanização planetária” que estaríamos atravessando às cegas e oferece um panorama dos desafios e perspectivas que vêm sendo construídas pelos diversos atores e movimentos sociais emergentes. A tradução é de Artur Renzo, para o Blog da Boitempo.
* * *
Na noite de 20 de junho de 2013, mais de um milhão de pessoas em cerca de 388 cidades brasileiras tomaram as ruas em um enorme movimento de protesto. O maior desses protestos, reunindo mais de 100,000 pessoas, ocorreu no Rio de Janeiro e sofreu considerável violência policial. Por mais de um ano antes disso, manifestações esporádicas vinham acontecendo em diversas cidades brasileiras. Capitaneadas pelo MPL que há muito vinha se mobilizando entre estudantes pelo transporte gratuito, os protestos anteriores foram em larga medida ignorados.
Mas no começo de junho de 2013, o aumento da tarifa sobre o transporte público desencadeou manifestações mais amplas. Muitos outros grupos, incluído black blocs anarquistas, saíram em defesa dos manifestantes do MPL e outros que estavam sofrendo repressão policial. No dia 13 de junho, o movimento já havia se transformado em um protesto generalizado contra a repressão policial, o fracasso dos serviços públicos perante as necessidades sociais, e a qualidade deteriorante da vida urbana. Os enormes gastos de recursos públicos para sediar megaeventos como a Copa do Mundo e as Olimpíadas – em detrimento do interesse público mas muito favoráveis, como amplamente se reconheceu, aos interesses de empreiteiras e incorporadoras corruptas – só aumentaram o descontentamento.
Manifestação_São Paulo_MPL
Os protestos no Brasil vieram menos de um mês depois de milhares de pessoas terem ido às ruas das principais cidades da Turquia. O que aparentemente começara como uma revolta com o projeto de reurbanização que transformaria em shopping center o precioso espaço verde do Parque Taskim Gezi, em Istambul, se alastrou em um protesto mais amplo contra a forma cada vez mais autocrática de governo e a violência da resposta policial. Um descontentamento generalizado sobre o ritmo e o estilo das transformações urbanas (incluindo aí enormes despejos de populações inteiras de terrenos valorizados no centro da cidade) também há muito vinha borbulhando e só jogou mais lenha na fogueira. A má qualidade de vida, para todos menos as classes mais abastadas, em Istambul e em outras cidades turcas era claramente uma questão importante.
O amplo paralelo entre o Brasil e a Turquia levou o articulista Bill Keller a escrever uma coluna de opinião no New York Times intitulada “The Revolt of the Rising Class” [A revolta da classe ascendente]. Os levantes não “nasceram do desespero”, ele escreveu. Tanto o Brasil quanto a Turquia haviam passado por um crescimento econômico notável em um período de crise global generalizada. Tratavam-se dos “mais recentes em uma série de revoltas brotando da classe média – as classes urbanas, educadas e não necessitadas, que são de certa forma as principais beneficiárias dos regimes que agora se põem a rejeitar” e que tinham algo a perder ao tomar as ruas em protesto. “Quando os movimentos atingiram uma massa crítica, eles já reivindicavam algo maior e mais incoeso como dignidade, os pré-requisitos da cidadania, as obrigações do poder.” As revoltas significavam “uma nova alienação, um novo anseio” que tinha de ser encarado.
A bem da verdade, as manifestações no Brasil e na Turquia diferiram dos protestos anti-austeridade e das greves que dominavam nas praças gregas e espanholas. Também diferiram das erupções de violência em Londres, Estocolmo, e nos subúrbios parisienses por parte das populações marginalizadas e imigrantes. E todos esses se mostraram diferentes dos movimentos “Occupy” em muitas cidades ocidentais e dos levantes pró-democracia que ecoaram de Túnis, Egito e Syria passando pela Bósnia e a Ucrânia.
Entretanto, há também pontos comuns que atravessam essas diferenças. Todas foram, por exemplo, centradas no espaço urbano, até certo ponto levemente supraclassistas, e ainda (ao menos inicialmente) inter-étnicas (embora isso tenha se desfeito na medida em que forças internas se deslocavam para dividir e controlar, e poderes externos exploravam os descontentamentos por vantagens geopolíticas, como na Síria e na Ucrânia). Desafeição e alienação urbana foram bastante proeminentes dentre os desencadeadores, bem como a indignação universal com a crescente desigualdade social, com a elevação nos custos de vida, e com repressões policiais gratuitamente violentas.
Nada disso deveria surpreender. A urbanização tem cada vez mais constituído um sítio primário de infindável acumulação de capital que administra suas próprias formas de barbárie e violência sobre populações inteiras em nome do lucro. A urbanização se tornou o centro de atividades econômicas avassaladores em escala planetária nunca antes vistas na história da humanidade. O Financial Times informa, por exemplo, que o “investimento imobiliário é o mais importante motor na economia chinesa”, que por sua vez tem sido o principal motor da economia global ao longo da crise mundial que começou em 2007. “A construção, venda e mobília de apartamentos representou 23% do PIB chinês em 2013.”1 Se somarmos os gastos com infraestruturas físicas de grande porte (estradas, ferrovias e obras públicas de todo tipo) então quase metade da economia chinesa está voltada para urbanização. A China consumiu mais de metade do aço e do cimento globais ao longo da última década. “Em apenas dois anos, de 2011 a 2012, a China produziu mais cimento que os Estados Unidos em todo o século XX”.2
Embora extremas, essas tendências não se encerram no território chinês. Concreto vem sendo despejado por toda parte em um ritmo sem precedentes sobre a superfície terrestre. Estamos, em suma, em meio a uma enorme crise – ecológica, social e política – de urbanização planetária sem, ao que parece, nos dar conta ou mesmo marcando-a.
Nada desse novo desenvolvimento poderia ter ocorrido sem despejos e despossessões massivas, onda após onda de destruição criativa que tem cobrado não só um preço físico mas também destruído solidariedades sociais, varrido qualquer pretensões de governança urbana democrática, e tem cada vez mais recorrido ao terror e à vigilância policial militarizada  como seu modo primário de regulação social. A inquietação ligada à despossessão na China é difícil de medir, mas é certamente muito difundida. O sociólogo Cihan Tugal escreveu: “Bolhas imobiliárias, preços altíssimos de habitação, e a privatização-alienação generalizada de bens urbanos comuns constituem o chão comum de protestos em lugares tão diversos como Estados Unidos, Egito, Espanha, Turquia, Brasil, Israel e Grécia”.3 O crescente custo de vida – particularmente de alimentação, transporte e habitação – tem tornado a vida cotidiana cada vez mais difícil para populações urbanas. Revoltas em torno de alimentação em cidades do norte da África eram frequentes e difundidas mesmo antes dos levantes na Tunísia e na Praça Tahrir.
TEXTO-MEIO
Esse boom de urbanização não tem tido muito a ver com atender às necessidades da população. Trata-se de uma estratégia para absorver capital excedente, sustentar taxas de lucro, e maximizar o retorno sobre valores de troca independentemente de quais forem as demandas por valores de uso. As consequências tem frequentemente se mostrado extremamente irracionais. Enquanto há uma escassez crônica de moradias financeiramente acessíveis em quase toda grande cidade, suas skylines são emporcalhadas com condomínios vazios para os ultra-ricos, cujos principais interesses são especular valores imobiliários ao invés de promover o bem-estar.
FOTO: Mídia Ninja
Em Nova York, onde metade da população tem de viver com menos de $30,000 dólares ao ano (em contraste com o 1%, que tinha uma renda anual média de $3.57 milhões de acordo com os relatórios tributários referentes a 2012), há uma crise de moradias financeiramente acessíveis porque em lugar algum é possível encontrar um apartamento de dois cômodos pelos $1,500 dólares ao mês que uma família de quatro deveria dedicar a habitação (dada a renda de $30,000). Em quase todas as principais cidades dos EUA, a porcentagem das despesas em habitação são muito superiores aos 30% da renda considerados razoáveis.4
O mesmo vale para Londres, onde há ruas inteiras de mansões desocupadas, mantidas por motivos puramente especulativos. Enquanto isso, o governo britânico busca aumentar a oferta de moradias acessíveis implementando uma taxa de sub-ocupação – que ficou conhecida como a bedroom tax –  sobre habitação social para o setor mais vulnerável da população, causando, por exemplo, o despejo de uma viúva morando sozinha em uma Council House de dois quartos. A taxa de sub-ocupação foi claramente implementada na classe errada, mas os governos esses dias parecem singularmente dedicados a bajular os mais abastados às custas dos pobres e desavantajados. A mesma irracionalidade de cômodos vazios em meio a carência de moradias a preços acessíveis pode ser encontrada no Brasil, na Turquia, em Dubai e no Chile, bem como em todas as cidades globais de altas finanças como Londres e Nova York. Enquanto isso, austeridades orçamentárias e relutância em taxar os mais ricos dado o poder esmagador de uma agora triunfante oligarquia significa um declínio de serviços públicos para as massas e ainda mais acumulação de riqueza para poucos.
É em condições desse tipo que a propensão a revolta política começa a inchar. Alienação universal de uma vida diária tolhante na cidade se evidencia por toda parte. Mas igualmente salientam-se as inúmeras tentativas por parte de indivíduos, grupos sociais, e movimentos políticos de encontrar formas de construir uma vida decente em um ambiente decente de vida. O tema de que deve haver alguma alternativa assume diversas formas e produz muitas quasi-soluções em aparentemente infinitas guisas.
É neste contexto que grupos de pensadores e ativistas estão explorando alternativas, por vezes em escalas pequenas mas em outras instâncias, no despertar de revoltas urbanas, para estimular a busca por melhores formas de vida urbana.5 O ethos faça-você-mesmo de muitos grupos sociais marginalizados da dinâmica prevalecente de acumulação de capital cria possibilidades de alianças entre pensadores e técnicos urbanos com movimentos sociais nascentes buscando uma vida boa ou, ao menos, melhor. Em nações andinas, o ideal do buen vivir está inscrito em constituições nacionais mesmo que na prática acabe entrando em conflito com políticas neoliberalizantes.6
Há possibilidades e potencialidade populares emergindo da crise da urbanização planetária e seus múltiplos mal-estares. Isso ocorre mesmo em face da aparentemente implacável força da acumulação infindável de capital, crescendo a uma taxa exponencial insustentável e apesar do poder que atravessa classes sociais sendo manejado por uma oligarquia global cada vez mais escancarada e intransigente.7
Uma escavadeira, posteriormente apelidada de de POMA, tomada por manifestantes e usada contra os veículos TOMA, carros-forte da polícia turca, em Istambul.
Então o que é que pode emergir das revoltas populares? Há signos e sinais confusos mas também algumas pistas importantes. No Parque Taskim Gezi, por exemplo, não era apenas o parque que importava. A “classe ascendente” construiu solidariedades sociais instantâneas, uma economia de compartilhamento e provisão social coletiva (alimentação, saúde, vestimentas), de zelar pelos outros (particularmente os feridos e amedrontados). Os participantes mostraram evidente prazer e disposição em debater interesses comuns através de assembleias democráticas, com discussões acaloradas que se estendiam noite adentro, e sobretudo encontraram um mundo possível de humor coletivo e liberação cultural que anteriormente parecia interditado. Eles abriram espaços alternativos, construíram um commons a partir de espaços públicos, e liberaram o poder do espaço a um propósito social e ambiental alternativo. Eles encontraram uns aos outros bem como o parque;8 eles identificaram uma ordem social nascente à espera.
Essas indicações nos permitem vislumbrar uma futura alternativa. O espírito de muitos (embora não todos) desses protestos e o espírito no interior dos movimentos pró-democracia e “Occupy” é de ir além da “nova alienação” que Keller percebe como sendo tão importante para construir uma experiência urbana menos alienante. Resistência visceral à proposta de despejar concreto sobre o Parque Taskim Gezi para construir uma imitação de um quartel otomano que funcionaria como mais um shopping center é nesse sentido emblemático do que é a crise da urbanização planetária. Despejar mais e mais concreto em uma busca sem sentido por crescimento infindável obviamente não é resposta alguma para nossos atuais males.
Aula pública convocada pelo MPL-São Paulo, com o economista Lucio Gregori, autor do projeto para o Passe Livre. Vale do Anhangabaú, 5 de janeiro de 2015.
Mas a “classe ascendente” também não representa a totalidade da população. Na Turquia, a massa das classes trabalhadoras islâmicas não se juntaram à revolta. Eles já possuíam suas próprias solidariedades culturais (frequentemente anti-modernistas) e relações sociais endurecidas (particularmente no que diz respeito à questão de gênero). Eles não se atraíram pela retórica emancipatória do movimento de protesto porque aquele movimento não abordou efetivamente sua condição de imensa privação material. Eles gostaram da combinação de shopping centers e mesquitas que o partido dominante, o AKP (Partido da Justiça e Desenvolvimento), estava construindo e não se importavam com a evidente corrupção em torno da explosão na construção civil contanto que representasse uma fonte de emprego. O movimento de protesto do Parque Taksim Gezi não era, como as eleições municipais subsequentes mostraram, supraclassista o suficiente para durar.
Não há resposta única aos nossos predicamentos. A experiência urbana sob o capitalismo está se tornando bárbara, bem como repressiva. Se as raízes dessa experiência alienante estão na infindável acumulação de capital, então essas raízes têm de ser definitivamente rompidas. As vidas e o bem estar têm de ser re-enraizados em outros modos de produzir e consumir, enquanto novas formas de socalidade precisam ser construídos. O ethosneoliberal de individualismo isolado e responsabilidade pessoal, ao invés de social tem de ser superado. Retomar as ruas em atos de protesto coletivo pode ser um começo. Mas é somente um começo e não pode ser um fim em si mesmo. Maximizar o buen vivir para todos na cidade ao invés do PIB, para o benefício de poucos é uma ótima ideia. Ela precisa ser fundamentada em práticas urbanas em toda parte.
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Notas
1. Jamil Anderlini, “Property Sector Slowdown Adds to China Fears,” Financial Times, May 13, 2014
2. Keith Bradsher, “China’s Sizzling Real Estate Market Cools,” New York Times, May 13, 2014, B1.
3. Cihan Tugal, “Resistance Everywhere: The Gezi Revolt in Global Perspective,” New Perspectives on Turkey 49(2013): 157–72.
4. Shaila Dewan, “In Many Cities Rent is Rising Out of Reach of Middle Class,” New York Times, April 14, 2014, A1.
5. Ver o capítulo 17 de meu livro Dezessete contradições e o fim do capitalismo (Boitempo, no prelo).
6. Republic of Ecuador National Planning Council, National Plan for Good Living: Building a Plurinational and Intercultural State (Quito: Senplades, 2010).
7. As tendências para uma maior desigualdade social foram recentemente documentadas de forma espetacular emLe capital ao xxi siécle, de Thomas Piketty.
8. Arzu Ozturkmen, “The  Park, the Penguin and the Gas: Experience and Performance in Progress of Gezi Events”, Mimeo (Bogazici University, Istanbul).

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Como é a vida nas cidades mais ecológicas do mundo

bbc
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150121_vert_tra_cidades_ecologicas_ml


Como é a vida nas cidades mais ecológicas do mundo

  • Há 3 horas
Cidade do Cabo
A Cidade do Cabo é uma das menos agressivas ao meio ambiente
Da oferta de ciclovias e mercados de produtos orgânicos ao monitoramento da qualidade do ar, os esforços ecológicos de uma cidade beneficiam seus moradores e ajudam o planeta.
O Siemens Green City Index, um projeto de análises da Economist Intelligence Unit, da Grã-Bretanha, organiza um ranking de cidades mais 'verdes' do mundo, atribuindo pontos nos quesitos de emissões de gases poluentes, alternativas de transporte, gerenciamento de recursos hídricos e do lixo, e políticas ambientais.
A BBC Travel conversou com os moradores das cidades no topo da lista para saber como é viver nelas.

San Francisco, Estados Unidos

Bonde em San Francisco
A taxa de reciclagem em San Francisco é de 77%
San Francisco, na Califórnia, é a cidade mais ecológica da América do Norte, segundo o Siemens Index. Tem uma longa história de consciência ambiental, que vem desde a fundação do grupo verde Sierra Club, no século 19.
A cidade tem uma taxa de reciclagem de 77%, uma das mais altas do mundo, possibilitada pela obrigatoriedade de se separar o lixo comum do reciclável.
"Estamos cercados por uma beleza natural estonteante e somos, historicamente, uma comunidade de mente aberta", diz Donna Sky, que veio da Costa Rica há nove anos e abriu uma empresa que fabrica e vende pasta de grão-de-bico orgânica.
Os moradores de San Francisco querem saber como e onde sua comida é produzida e tentam sempre consumir ingredientes produzidos localmente.
Por isso, muitos bairros têm feiras onde quem vende são os próprios produtores, cada uma com uma característica diferente. O bairro ao norte do parque Panhandle – conhecido localmente como NoPa – tem um mercado que funciona o ano todo, enquanto o Mission e o Haight-Ashbury oferecem feiras sazonais.
Os três bairros são populares entre ciclistas, por causa de sua topografia plana.
"Cada um tem sua própria vibe", define Jarie Bolander, ex-presidente da Associação de Moradores de NoPa. "Nosso bairro tem uma maioria de jovens profissionais liberais, enquanto Haight abriga uma mistura de hipsters com antigos hippies."

Copenhague, Dinamarca

Copenhague vista de uma bicicleta
Mais de 50% dos moradores de Copenhague se locomovem de bicicleta
Apesar de ser seguida de perto pelas capitais escandinavas Oslo e Estocolmo, Copenhague tem mantido a posição de cidade mais ecológica da Europa.
Quase todos os seus moradores vivem a 350 metros do transporte público, e mais de 50% se locomovem de bicicleta. Como resultado, Copenhague apresenta emissões de poluentes extremamente baixas para uma cidade de seu tamanho (cerca de 1,2 milhão de habitantes).
Os bairros de Norrebrø, no noroeste, e Frederiksberg, no oeste, são especialmente comprometidos com o ciclismo, como conta Mia Kristine Jessen Petersen, que nasceu e mora na capital dinamarquesa.
"Foi investido muito dinheiro na criação da 'Via Verde', uma faixa de nove quilômetros para pedestres e ciclistas. Ela serve para ajudar as pessoas a circular pela cidade rapidamente e em um cenário lindo. Não se trata apenas de uma ciclovia, mas sim de um caminho cheio de parques, playgrounds e bancos para contemplarmos a paisagem", descreve.
Além de adorar pedalar, os residentes de Copenhague são apaixonados por reciclagem e fabricação de adubo orgânico, e são conhecidos por inventar maneiras de economizar eletricidade e calor.
"Nós, dinamarqueses, enxergamos a natureza como um porto sagrado. Fazemos todo o possível para tomar conta da natureza que temos nas cidades", explica Petersen.

Vancouver, Canadá

Vancouver
Vancouver incentiva o uso de energias limpas, o que a coloca entre as menos poluentes do mundo
Comparada com outras cidades do mesmo tamanho (pouco mais de 600 mil habitantes), Vancouver ganhou muitos pontos do Siemens Index no que se refere a emissões de gás carbônico e qualidade do ar, em parte por causa da ênfase local no incentivo ao uso de energias limpas.
A cidade prometeu reduzir suas emissões em 33% até 2020. O compromisso não surpreendeu o morador Lorne Craig, que se mudou para lá em 1985 e escreve o blog Green Briefs.
"Vancouver tem abrigado uma profunda contracultura ecológica desde os anos 60 e é reconhecida em todo o mundo por ser o berço do Greenpeace", diz Craig. "A própria paisagem da cidade, cercada por montanhas, nos faz lembrar que somos parte de algo muito maior e mais bonito."
Enquanto outras cidades do Canadá continuaram abrindo avenidas para melhorar o trânsito de veículos, Vancouver se manteve comprometida com a qualidade de vida de seus cidadãos. É o que mostra o desenvolvimento da Granville Island, uma península essencialmente pedestre onde os moradores frequentam mercados e estúdios de arte.
Muitos outros bairros de Vancouver também são ecológicos. Um extensa rede de ciclovias facilita o tráfego de bicicletas pela cidade, especialmente a West 10th Avenue, onde as pessoas circulam com bicicletas, mobiletes e até monociclos.

Curitiba, Brasil

Jardim Botânico de Curitiba
Curitiba é a única cidade latino-americana bem acima da média em questões ecológicas, segundo índice
De todas as cidades latino-americanas listadas no Siemens Index, apenas Curitiba aparece com uma contagem de pontos acima da média. Depois de ter construído um dos primeiros grandes sistemas de corredores de ônibus do mundo, nos anos 60, e ter desenvolvido um programa de reciclagem pioneiro nos anos 80, a capital paranaense continua a pensar no meio ambiente.
O uso em massa do transporte público faz de Curitiba uma das cidades com os melhores índices de qualidade do ar do ranking.
Curitiba, no entanto, parece estar carente de revitalização, segundo o britânico Stephen Green, que mora na cidade há 15 anos e escreve o blog Head of the Heard.
Estão nos planos a construção de um metrô e mais 300 quilômetros de ciclovias, mas os projetos são caros e a cidade precisa de mais verbas para colocar tudo em pé.
Green mora nas Mercês, um tradicional bairro do centro. "Temos uma ótima feira aos domingos, uma boa conexão de transportes e estamos perto do maior parque da cidade", elogia.

Cidade do Cabo, África do Sul

A segunda cidade mais populosa da África do Sul está na dianteira do movimento ambiental no continente africano, pressionando por uma maior economia de energia e um uso maior de recursos renováveis.
Em 2008, a Cidade do Cabo começou a usar energia da primeira estação eólica privada do país. Agora tem o objetivo de obter 10% de sua energia de fontes renováveis até 2020.
Esses esforços estão transformando a vida na cidade. "Temos cada vez mais ciclovias e feiras livres. E os restaurantes valorizam ingredientes produzidos localmente", diz Sarah Khan, uma nova-iorquina que adotou a cidade africana em 2013, e que escreve o blog The SouthAfriKhan.
Ainda assim, ela acredita que a cidade ainda poderia fazer mais para melhorar o transporte público e evitar os constantes cortes de energia elétrica.
Os moradores têm uma "natureza exploradora" e não têm medo de circular de bicicleta. "As melhores áreas para pedalar na cidade são o Sea Point e o Green Point", conta Leonie Mervis, fundadora e diretora da campanha Bicycle Cape Town.
Apesar de o centro da cidade não ter muitas ciclovias, as bicicletas podem ser levadas a bordo dos ônibus, o que torna mais fácil a circulação sem carro.
Mervis mora em Hout Bay, um bairro 20 quilômetros ao sul do centro que abriga muitos artistas e moradores com consciência ecológica.
"Muita gente aqui usa sistemas de aquecimento por painel solar e produzem seus próprios legumes e verduras", diz Mervis. "Também temos uma comissão de meio ambiente que apoia iniciativas ecológicas e cuida dos espaços ao ar livre."

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

David Harvey critica modelo capitalista de urbanização

fase
http://fase.org.br/pt/informe-se/noticias/david-harvey-critica-modelo-capitalista-de-urbanizacao/


David Harvey critica modelo capitalista de urbanização

Recentemente, o geógrafo britânico lançou seu novo livro no Brasil. Ele participou de conferência em PE e visitou o Movimento Ocupe Estelita


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David Harvey: “As cidades devem ser para as necessidades das pessoas e não do capital”  (Foto: Passarinho/UFPE)
David Harvey não visitava Pernambuco há 40 anos. Quase não reconheceu a capital Recife, onde esteve recentemente para ministrar a conferência “Economia Política da Urbanização: acumulação do capital e direito à cidade”. O modelo de urbanização no capitalismo foi o foco de sua fala no evento, que reuniu cerca de 1500 pessoas. O geógrafo britânico, considerado uma referência em dinâmica do capital e estudos territoriais, esteve no Brasil para o lançamento de seu novo livro “Para entender O Capital: Livros II e III”, um guia de leitura da obra de Karl Marx.
O professor de antropologia da Pós-Graduação da Universidade da Cidade de Nova York (The City University of New York – Cuny) explicou que o sistema capitalista defende o crescimento, mas que não é possível mantê-lo o tempo todo. Dessa maneira,  surgem as dívidas, baseadas na promessa de se ter recursos no futuro. “Capitalismo, em vez de liberdade, é dominação”, afirmou Harvey. Para ele, é preciso inventar uma sociedade que não dependa do crescimento, mas sim da redistribuição da riqueza.
Auditório lotado com 1500 pessoas. (Foto: Evanildo Barbosa/FASE)
Auditório lotado com 1500 pessoas. (Foto: Evanildo Barbosa/FASE)
Harvey tem escrito sobre as mobilizações que surgiram, desde 2011, em diversas cidades do mundo, em contestação à dominação que as grandes empresas exercem sobre a produção do espaço, com seus impactos sobre a qualidade da vida urbana. “A urbanização planetária passou a ser o centro da reprodução do capital”, disse.
Durante a palestra, realizada no último dia 17, ele não deixou de analisar os protestos do ano passado no Brasil. Segundo o estudioso, eles foram fruto do descontentamento com o fato de as cidades não funcionarem para a maior parte da população. “As cidades devem ser para as necessidades das pessoas e não do capital”, defendeu. Harvey também salientou que houve explosões de descontentamento até mesmo em cidades como Paris e Londres, sendo preciso unir todas essas manifestações para gerar mudança.
David Harvey ao lado da equipe de organização do evento, da qual a FASE participou (Foto: UFPE)
David Harvey ao lado da equipe de organização do evento, da qual a FASE participou (Foto: UFPE)
A conferência foi promovida pela Editora Boitempo e pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), com coordenação do Núcleo de Gestão Urbana e Políticas Públicas (Nugepp). Contou com o apoio da FASE, da Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (Anpur) e da Comunidade Interdisciplinar de Ação Pesquisa e Aprendizagem (Ciapa). Além de visitar Recife, David Harvey esteve entre os dias 14 e 19 de novembro em debates gratuitos nas cidades de Brasília, Fortaleza, Curitiba e São Paulo.
Apoio ao Movimento Ocupe Estelita
“Eu escrevo sobre o direito à cidade, vocês o praticam. E isso é o mais importante”, declarou David Harvey em apoio ao Movimento Ocupe Estelita, que faz oposição, ao lado de outros movimentos urbanos de luta pelo direito à cidade, a um projeto imobiliário chamado “Novo Recife”. Ele visitou os armazéns do Cais José Estelita durante mais um dia de atividades do movimento. Lá foram realizados shows, debates sobre política, oficinas, projeção de filmes, exposições de fotografias, além de uma programação voltada para as crianças.
"Ocupar, resistir! ", gritaram os ativistas ao final da fala de Harvey (Foto: Ocupe Estelita/facebook)
“Ocupar, resistir! “, gritaram os ativistas ao final da fala de Harvey (Foto: Ocupe Estelita/facebook)
“Vocês não têm o grande capital do seu lado, não têm as grandes corporações do seu lado. Então, a única madeira de defender o que vocês têm é indo para a rua com outras pessoas, unidas, realizando atividades culturais, se divertindo e fazendo política ao mesmo tempo”, garantiu Harvey.
O empreendimento “Novo Recife” pretende levantar 12 torres com até 40 andares ao longo da orla, numa região próxima ao centro histórico da capital pernambucana. “Opor-se a esse tipo de desenvolvimento é opor-se ao Capital. Eu creio que em certo momento temos que nos tornar anticapitalistas e construirmos um tipo alternativo de sociedade, baseada em relações humanas diferentes e em diferentes estruturas sociais”, reforçou o geógrafo. E completou: “Creio que os tipos de solidariedade que podem ser construídas valem a pena por si só, porque vivemos numa cidade que é cada vez mais individualista, mas quando trabalhamos juntos a experiência é muito mais satisfatória”.
“Recife, cidade roubada”
O Movimento Ocupe Estelita acaba de lançar um vídeo em que denuncia o “Novo Recife”. De acordo com a produção, as irregularidades começaram desde o leilão do terreno, em 2008. O documentário destaca também que o projeto não contou com estudos de impacto ambiental e de vizinhança.
O filme é narrado por Irandhir Santos, ator pernambucano de destaque no cinema e na TV, e conta com o rapper Criolo na trilha sonora. Traz ainda entrevistas que citam as velhas práticas do empreendimento, como a apropriação de dinheiro público em prol de interesses privados e a realização de obras que aprofundam desigualdades sociais. “Nem tudo que é novo é bom. Nem tudo que é novo é novo”, diz a chamada.
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quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Empate urbano – de Chico Mendes ao Parque Augusta

correio da cidadania
http://www.correiocidadania.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=9222:social060114&catid=71:social&Itemid=180

 Empate urbano – de Chico Mendes ao Parque Augusta

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ESCRITO POR PAULO SILVA JR.   
SEGUNDA, 06 DE JANEIRO DE 2014



Francisco Alves Mendes dizia para quem quisesse ouvir naquele final de 1988: não chego até o Natal. O mais famoso líder amazônico na luta contra o desmatamento ganhou o mundo pregando a preservação da floresta e caiu morto, assassinado com um tiro de espingarda no peito, numa ida ao banheiro do próprio quintal de casa na noite de 22 de dezembro daquele ano, em Xapuri, Acre.

Antes, no dia 9, em entrevista reveladora concedida ao repórter Edilson Martins*, Chico revelara que o governador do Acre, Flaviano Melo, decidiu reforçar a segurança do seringueiro. “Ele sabe que meu assassinato vai complicar a situação do estado”. Mais que isso, o ativista deu até o nome dos bois: os irmãos Darly e Alvarinho Alves, proprietários da Fazenda Paraná, que segundo Chico eram mandantes de mais de 30 crimes, seriam os responsáveis por sua futura morte. De fato, 13 dias depois, Chico interrompeu a partida de dominó com dois seguranças para que a esposa arrumasse a mesa de jantar, jogou uma toalha nos ombros e deixou a cozinha rumo ao banheiro para tomar uma ducha. Foi atingido ainda na escada que dava no quintal pelo filho de Darly, Darci Alves, escolhido pelo pai para disparar o tiro histórico.

Em resumo, o foco de Chico Mendes, então presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri quando assassinado, era mobilizar a população local, formada majoritariamente por seringueiros, contra os desmatamentos orquestrados por grandes fazendeiros pecuaristas. Naquele tempo, foi criado o empate, processo que se difundiu com Wilson Pinheiro – presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasileia (cidade acreana vizinha a Xapuri) e assassinado a mando de fazendeiros locais, quando assistia novela na sede do sindicato, numa noite em 1980 – e depois ganhou força com Chico Mendes. A explicação do empate nas palavras do próprio Chico, na já citada entrevista de 9 de dezembro de 1988:

“(O empate) é uma forma de luta que nós encontramos para impedir o desmatamento. É uma forma pacífica de resistência. No início, não soubemos agir. Começavam os desmatamentos e nós, ingenuamente, íamos à Justiça, ao Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal e aos jornais denunciar. Não adiantava nada. No empate a comunidade se organiza em mutirão, sob a liderança do sindicato, e se dirige à área que será desmatada pelos pecuaristas. A gente se coloca diante dos peões e jagunços com as nossas famílias – mulheres, crianças e velhos – e pedimos para eles não desmatarem e se retirarem do local. Eles, como trabalhadores, a gente explica, que também estão com o futuro ameaçado. E esse discurso emocionado sempre gera resultados. Até porque quem desmata é o peão simples, indefeso e inconsciente. Bom, de março de 1976 até agora (final de 1988) já realizamos 45 empates, sofremos 30 derrotas e tivemos 15 vitórias. (O objetivo) É criar um fato político. Mais que isso: desapropriar a área e finalmente criar a Reserva Extrativista”. Na época, Chico calculava cerca de 150 mil hectares no Acre já assegurados nesta condição de reserva.

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Dezembro de 2013. Depois de anos de manifestações, o movimento de pessoas na luta pela criação do Parque Augusta – um terreno de 25 mil metros quadrados e Mata Atlântica nativa entre as ruas Augusta, Caio Prado e Marquês de Paranaguá – se intensificou no segundo semestre deste ano, ao tempo em que o proprietário do terreno, o banqueiro Armando Conde, passou o controle do local para as incorporadoras Cyrela e Setin. O projeto das construtoras definiu a construção de duas torres comerciais e um bosque administrado e controlado pela própria iniciativa privada na área tombada e tomada por árvores nativas.

Enquanto isso, em novembro, a Câmara dos Vereadores aprova o Projeto de Lei 345/2006 que define o uso do terreno para a criação do parque público. O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, tem, portanto, um mês para sancionar o PL.

As pessoas que já frequentam o Parque Augusta há algum tempo – e trabalham no mesmo, até então uma região desprovida de qualquer cuidado com limpeza, por exemplo – decidem organizar o I Festival Parque Augusta no final de semana dos dias 7 e 8 de dezembro, como forma simbólica de inaugurar a área. E os dois dias de oficinas, música, arte, intervenções culturais e educação ambiental apresentam, definitivamente, o local para a população paulistana, um lampejo (o último!) de área verde na rota boêmia, ainda que desconfigurada e com prédios estuprando botecos sujos, do Baixo Augusta.

Mais e mais pessoas passam a frequentar o parque. A cada dia ele ainda surpreende crianças, jovens, adultos, idosos. É uma realidade, ora. Mas o festival é só um passo da luta daqueles que querem tornar um parque com Mata Atlântica um terreno que não quer ver prédios com cara de Berrini. E o movimento se organiza em ato na frente da prefeitura de São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro, para ouvir de forma extra-oficial que, sim, o Parque Augusta vai sair.

A opinião pública ganha um novo debate: afinal, mais dois prédios ou a preservação total de um oásis na caótica selva de pedra? O artista Pedro Rocha se maravilha com uma volta no Parque Augusta e fala que “é fundamental ver a força do corpo crescer como vegetação”, “apostar nos processos poéticos e afetivos”; uma semana depois, o escritor, dramaturgo e roteirista Marcelo Rubens Paiva lembra que “já há duas propostas de parques a serem tomados, o Parque Pinheiros e a Chácara do Jóquei, além de tantos outros por aí”. Encoraja a população e, mais, convoca um debate com outros quatro comunicadores para o sábado, 21 de dezembro.

Cadão Volpato é jornalista, músico, crítico literário, apresentador. Jamais havia entrado no Parque Augusta. Revela ainda que nem tinha se dado conta de tamanho número de árvores que existiam ali por trás de um muro. Vê os filhos sorrindo ao conhecer o bosque e fala sobre a região: “se olharmos para os lados vemos que a Augusta está perdendo a cara, só tem espigões. Eu morava na Frei Caneca, e hoje só tem prédio, o trânsito é incalculável, é uma tendência do bairro e o parque começa a reverter isso. Isso é pra cidade toda, é um ganho político para São Paulo”.

Antônio Prata estudou filosofia, cinema e ciências sociais. É escritor e roteirista. “Eu tinha duas propostas para São Paulo. Uma delas eu trouxe de Chicago, que é a cidade mais bonita que eu já fui e pegou fogo em 1904, se não me engano, quando uma vaca chutou um lampião. Então construíram uma cidade do zero, o que é ótimo. Outra maneira menos radical é pegar esses dias de congestionamento de 400km, tirar todo mundo dos carros e aterrar os veículos pra começar uma cidade com ciclovias, jardins. Então quando a gente vê um negócio deste como o Parque Augusta acontecendo, fica mais esperançoso sobre a mudança”.

Marcelo Tas é apresentador, roteirista, ator. “São Paulo era um lugar muito lindo que foi devastado por seres humanos. Mas por que eu vim morar em São Paulo e estou agora há 30 anos aqui? Por causa das pessoas que moram em São Paulo. Entrei aqui (no Parque Augusta) pela primeira vez hoje, e olha que circulo muito por essa cidade. Mas quando eu entrei aqui, eu falei: o Parque Augusta não tem mais volta. São poucos lugares que eu entrei e me senti tão acolhido pela natureza”.

Pedro Ekman é jornalista e milita pela democratização da mídia. “O principal ganho que a gente tem é justamente a apropriação e disputa do espaço público pela própria população. O Brasil tem uma tradição de entender o que é público como o que é do Estado. TV pública, a gente pensa que é estatal. E vir pra cá e dizer que aqui tem de ser um parque, não um estacionamento, é disputar os espaços. Então vamos ocupar os relógios públicos, a TV do ônibus, os canais de TV. Nem o Saad, nem o Silvio Santos, nem o Edir Macedo, nem o Marinho são donos dos canais, eles são da população brasileira. E uma coisa que já podemos definir é que aqui não vai ter grade nem muro. No Brasil a gente separa o lado de fora do lado de fora. Vamos radicalizar essa concepção”.

Pouco antes do debate, o cantor e compositor André Abujamra se apresentou com a banda Mulheres Negras e sentenciou: “quem não faz política, aceita a política que fazem com a pessoa. Isso é mais que um parque, não é nem um pólo cultural, é um pólo de seres humanos reunidos, entendeu?”.

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Não chega até o Natal.

O domingo, 22 de dezembro, amanhece com cartazes de Chico Mendes nos postes que ligam meu caminho da Praça da República até o Parque Augusta.

O empate urbano segue. Moradores desta São Paulo que não se aguenta mais nos próprios limites enfrentam os paradigmas do suposto desenvolvimentismo e entram na madrugada com uma vigília frente ao portão. Sim, portão, colocado às pressas e aumentando o cerco diante da única entrada do parque aberta, aquela que corresponde a um estacionamento (mais um!) privado.

A segunda-feira, 23, é de expectativa. E a terça, 24, amanhece com o prefeito sancionando o Projeto de Lei. O terreno é, finalmente, uma área dedicada à construção de um parque, que agora tem em centenas de pessoas, reunidas voluntária e espontaneamente, o fim de levar para frente o projeto de autogestão da área pública, aberta a todos, heterogênea, transparente, livre. E, claro, acompanhar como se darão as negociações entre município e iniciativa privada em relação ao terreno.

“Durante curso recente de formação de lideranças no Acre, um jovem seringueiro foi convidado a expressar, em desenho, o que pensava sobre o futuro da Reserva Extrativista Chico Mendes, um bolsão verde de 970 mil hectares que atravessa seis municípios e simboliza a luta ambientalista no estado. O rapaz, de uma comunidade tradicional da floresta, não hesitou: em traços rápidos, desenhou um prédio” – jornal O Globo, dezembro de 2013.

Para que quando alguém perguntar sobre o futuro da rua Augusta, existam cada vez mais rabiscos verdes.

Longa vida ao Parque Augusta.

* Como o editor do Jornal Brasil considerou que “o entrevistado politizou demais a entrevista” e engavetou o material, o conteúdo da mesma foi publicado só no dia 24 de dezembro, quando a imprensa do país se deu conta da repercussão internacional do caso.

** A entrevista completa citada neste texto está no livro Chico Mendes – Um Povo da Floresta, de Edilson Martins (editora Garamond); outro bom livro sobre o tema é Chico Mendes – Crime e Castigo, de Zuenir Ventura (Companhia das Letras); o filme Burning Season (Amazônia em Chamas, em português) tem Raul Julia no papel de Chico Mendes e está disponível na íntegra no Youtube.

*** Informações sobre o Parque Augusta estão na página de mesmo nome no Facebook ou emwww.parqueaugusta.org.

Paulo Silva Junior é jornalista, autor do livro “O Acre existe” e frequentador do Parque Augusta.

Estudo analisa projeto de lei que pretende tirar MT da Amazônia Legal

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