quinta-feira, 26 de setembro de 2019

A garota, o fascista e a luta pelo futuro

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A garota, o fascista e a luta pelo futuro

Na sociedade dele, fraqueza é morte. Virtude é ganância, frieza e vaidade. Ninguém sente nada. Afastam com medicação a dor de viver sem dinheiro, dignidade, tempo ou sentido. Temem a menina que se tornou adulta antes do tempo
Por Umair Haque | Tradução: Inês Castilho
Houve ontem um momento histórico, capturado por fotografias, que me tocou e provavelmente tocou você, por ser memorável e especial.
O fascista pavão que encabeça o império capitalista mundial em desagregação – arrogante no brilho das câmeras. E atrás dele a colegial humilde e desafiadora, tentando salvar o mundo. Que momento! Mas o que há de tão impressionante nisso? Por que toca tanto as pessoas sensatas e conscientes?
Como todos os momentos históricos, um paradoxo – ou vários deles – revelou-se claramente. Um conflito épico entre o passado e o futuro. O presente e a possibilidade. Entre o velho mundo, que morre – e o novo lutando para nascer.

O primeiro paradoxo é entre poder e falta de poder – mas não de modo simplista. De um lado, a estudante mais adulta que o normal. Repreendendo os governantes do mundo reunidos. Sem se deter em nenhum momento. Vocês fracassaram conosco, diz ela. Vocês roubaram minha infância e agora estão roubando meu futuro. Por dinheiro. Vocês não ligamPara nós? Para o planeta? Os governantes aplaudem, desconfortáveis. Foram pegos, chamados, flagrados, questionados, desafiados – por uma garota. Como chegaram aqui os sem-poder, por um momento que seja? Como uma estudantezinha … está desafiando a força congregada dos poderosos do planeta Terra?
O mundo parece estar virando de cabeça pra baixo diante de nossos olhos. A criança que se tornou adulta antes do tempo está repreendendo os adultos mais poderosos do mundo por estar agindo… como crianças mimadas! È algo bizarro, surreal, inebriante. Vemos revelado, em termos absolutos, o quão terrivelmente os governantes falharam. Uma estudantezinha está chamando-os ao dever – literalmente. Pode haver acusação maior do que essa? Quando uma menina expõe quão viciadas são suas prioridades, moralidade, ética, atitudes … quem é a criança de fato ? A pequena estudante está desafiando o poder formal, institucional com o poder moral, o social e cultural. Ela vencerá?
Isso me traz ao segundo paradoxo – entre o que você pode denominar ego e alma. Greta, como todas as grandes figuras da história, maneja a vergonha. Pense em Martin Luther King, Gandhi, Mandela, Malala. Todas elas são titãs do poder moral. O que dá a este sua força demolidora? Ao nos converter em testemunhas, apela para o que há de melhor em nós. Nossa alma moral, nossa consciência. Isso nos envergonha, provoca em nós a culpa por pequenas cumplicidades e cegueiras voluntárias. Fustiga com um chicote de tristeza e arrependimento. Devemos ser melhores que isso, ela nos lembra. Então talvez desafiemos as ordens dos homens insensatos e violentos que transformaram a humanidade em servos e escravos por milênios. Talvez então haja revolução.
Há um homem impermeável à mensagem de Greta. O líder – não ria – do “mundo livre”. Ele atravessa o palco, presunçoso como uma … criança mimada. Só dá ele, você vê. Ora, é ele quem merece o Prêmio Nobel da Paz. Por construir campos de concentração, prender crianças em gaiolas, separar famílias e deixar crianças pequenas morrer de fome – aquilo que o último promotor vivo de Nuremberg chamou de crimes contra a humanidade.
A mensagem de Greta não o atinge – ou aos seus seguidores, que começaram a atacá-la por ser diferente, por ser jovem, por ser desafiadora, por não obedecer. Ele a xinga. O que isso nos diz? O poder moral da mensagem de Greta vem de uma terrível vergonha. Mas esse homem – o fascista que lidera o “mundo livre” – não tem vergonha. Muito naturalmente, tudo que ele sente é ódio e fúria. Por que?
Porque ele é um narcisista infantil. Ele literalmente vive no mundo emocional e das experiências de uma criança pequena. Está para sempre buscando poder total, onipotência, provar a si mesmo que tem valor, tendo sido desamado por pais distantes. Ele vai fracassar – porque nesta vida ninguém pode ter poder absoluto. Ele já é motivo de ridículo no mundo. Não importa – ele duplica a dose. Impõe mais violência, faz mais xingamentos. O mundo ri um pouco mais. O ciclo vicioso continua. O que mais um narcisista infantil pode fazer? Ele não tem vergonha – só o desejo desesperado de ser poderoso, mesmo que isso signifique … transformar o mundo inteiro em cinzas, desde que ele possa ficar no topo disso.
É possível perceber como a pequena estudante representa um nível radicalmente mais alto de consciência do que a maioria dos governantes do mundo… mas especialmente do líder fascista do “mundo livre”?
Isso me leva ao próximo paradoxo. O líder do “mundo livre” é um fascista, com arsenais de máquinas que assassinam por controle remoto. Sua mentalidade atrofiada e reduzida – a razão de sua existência é conquistar mais poder e riqueza por meio da violência – está sendo desafiada por uma menininha de uma social-democracia suave, com vergonha, culpa e humanidade. Como?
Por que todos os que atacam Greta, ou ao menos a maioria deles, vêm do país deste homem – o império capitalista que implodiu em fascismo? Não é natural que aqueles que não têm vergonha venham do império capitalista da violência e da voracidade? Naquela sociedade, vulnerabilidade é fraqueza, e fraqueza é morte. Virtude é, portanto, ganância, desumanidade, crueldade, frieza, egoísmo, vaidade. O que é valorizado acima de tudo é a capacidade de impor violência – não apenas física mas social, emocional, cultural. Você pode destruir uma cidade sem sentir nada? Você pode vender a um país inteiro pílulas ou armas que matam? Impressionante! Aqui está um bilhão de dólares! A vergonha não é permitida no império de violência do capitalismo. Como poderia?
Os sentimentos simplesmente não são permitidos. Ninguém mais sente nada. Eles aprenderam a expulsar com medicação a dor terrível de ser explorado sem piedade por seus senhores capitalistas, que os deixam sem dinheiro, dignidade, tempo, sentido. E os donos de escravos, por sua vez, estão muito ocupados transformando-os em commodities para vender e comprar, de modo que possam comprar coisas brilhantes para gabar-se e exibir-se. No império em ruínas do capitalismo, ninguém mais está autorizado a sentir, razão por que este império é conhecido mundialmente por sua frivolidade, superficialidade, falta de sentido. As pessoas foram desumanizadas – mas não sabem disso, porque ninguém vai lhes contar. O que pessoas desumanizadas podem fazer para salvar um planeta moribundo? Elas não conseguem sequer se salvar.
Mas o país de onde vem a estudante é o oposto. As pessoas não parecem presas numa disputa por uma fatia cada vez menor de poder, como no Império capitalista em colapso. Por que? As pessoas são cuidadas. Não perfeitamente – alguma sociedade será perfeita algum dia? Simplesmente de um modo mais humano. Seguro-saúde, aposentadoria, renda, transporte, educação – essas coisas são direitos humanos básicos. As pessoas são portanto mais livres – porque, em vez de competir pelo poder, elas se fortalecem umas às outras. Para quê? Para viver mais plenamente. Para serem felizes, questionarem, conhecerem, entenderem, desafiarem, resistirem, pensarem, raciocinarem, serem humanes e decentes e saudáveis. E assim, finalmente – isso é crucial – sentirem. Isso é o que lhes foi ensinado.
Quando sua vida não é uma competição sem fim, desumanizadora, brutalizadora, pela sobrevivência – perdeu aquele emprego, lá se vai seu seguro saúde, bang, uma pequena emergência e todo mundo está à beira da ruína – então sua vida também não é um contínuo sentimento de pavor, ansiedade e desespero. Você não tem que medicar esses sentimentos para espantá-los – do modo como as pessoas fazem no império capitalista, seja com comprimidos, dinheiro ou posses. Você está livre para sentar-se e refletir, para sentir profundamente o pesar, a alegria, a dor e a beleza de simplesmente estar aqui. Existir por meio apenas alguns atos de respirar, neste oásis azul girando através da escuridão infinita.
Mas o capitalismo matou a habilidade de sentir. De conectar-se de verdade com a própria vida. A pequena estudante sente, e sente profundamente, a ponto de sofrer pela morte do planeta e da vida nele. Não é coincidência que ela venha de um tipo de sociedade diferente. Ela certamente não poderia ter vindo do império capitalista. Quem pode sofrer pelo fim do mundo na terra do sorriso de plástico? E esse sorriso de escárnio não é o que está estampado na cara do fascista?
Isso me leva ao próximo paradoxo. Uma pequena estudante – ensinando a todos nós como sofrer pelo fim do mundo. Enquanto o líder fascista do mundo livre apoia e aprende e nos ensina apenas o que é ser o tipo de tolo violento que acaba com os mundos.
Vamos colocar desta forma. O que a pequena estudante está de fato nos ensinando? O valor da raiva? Isso é o que pensam as pessoas – os bem-intencionados – no império capitalista. Elas agora só podem ver violência, por isso pensam que a lição é a raiva. Mas não é. A lição é esta. Para enfrentar o fim do mundo, e lutar contra ele, precisamos sentir, realmente sentir, dentro dos nossos ossos. Se não podemos sentir – que razão haverá para agir?
Pense no fascista que atravessa o palco, que zomba da pequena estudante. Por que ele não liga para o fim do mundo? Por que seus seguidores não ligam? Bem, porque eles não podem sentir nada, de fato. É por isso que estão tentando vencer, por meio de todo tipo de abuso, toda a violência, todo o dinheiro e poder e sexo que exigem. Eles querem sentir algo, qualquer coisa, menos o vazio. Estão muito ocupados esperando tirar vantagem do fim do mundo, da vida que morre no planeta Terra. O que isso nos diz? Emocionalmente, eles estão numa disputa interminável pela sobrevivência. Qualquer coisa menos que onipotência, estar acima de todos os outros, dominá-los – carece de valor. Do que mais o líder fascista do mundo livre estaria atrás … de ainda mais dinheiro e poder? Pelo que mais seus seguidores insultariam e zombariam da estudante?
Não sobraram sentimentos verdadeiros. Somente a sensação de raiva por ter direito, mas ter negados o poder e a fortuna merecidos. O velho sentimento de amargura – esses escravos me pertencem! Esses subumanos deveriam estar em campos de concentração! Não há sentimentos genuínos – apenas o desejo ardente de provocar violência. Os sentimentos morrem todo dia um pouco no império em ruínas do capitalismo.
Mas aqueles que não podem sentir nada não podem também enfrentar o fim do mundo – muito menos lutar contra ele. Pense na pequena estudante. Ela é divergente. Ela não tem a cabeça normal. Dizem que pessoas como ela não deveriam ser capazes de sentir muita coisa – este é o mito. Mas é ela a incandescente. Aquela que repreende os governantes do mundo com uma espécie de fúria abrasadora. Ela é quem chora lágrimas. É dela que a tristeza explode como um inverno sem fim.
A pequena estudante está nos ensinando como chorar pelo fim do mundo. Dessa maneira, ela também nos ensina a lutar pelo futuro. Mas o fascista que lidera o “mundo livre” só está nos ensinando como zombar e desdenhar da morte. Da democracia, do planeta, da vida que há nele, da história, da decência.
A pequena estudante está nos ensinando que a capacidade de desafiar vem não apenas da irritação ou da fúria – ou mesmo da “esperança” e “otimismo” perfeitamente empacotados pelo império capitalista – mas de um sentimento de tristeza profundo e devastador, de um sentimento de desespero existencial de parar o coração. Da náusea de Sartre, do desespero de Camus, do terror de Kierkegaard. Sem essas emoções vivificantes irradiando de nossos centros morais como grandes ondas de transformação – não apenas a interminável fome de mais poder, mais dinheiro, mais posses – não há absolutamente razão para fazer outra coisa senão submeter-se aos homens violentos que sempre governaram o mundo. Mesmo que o mundo, desta vez, esteja acabando.
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terça-feira, 17 de setembro de 2019

Cuiabá registra maior temperatura em 108 anos


https://www.climatempo.com.br/noticia/2019/09/16/cuiaba-registra-maior-temperatura-em-108-anos-8450

Cuiabá registra maior temperatura em 108 anos

16/09/2019 às 18:23
por Josélia Pegorim

Atualizado 16/09/2019 às 19:06
Oferecimento
Com temperatura acima de 42°C, capital de Mato Grosso registrou novo recorde histórico de calor em 16 de setembro
O calor foi extremo em Cuiabá na tarde de 16 de setembro e bateu o recorde histórico de calor desde 1911. O Instituto Nacional de Meteorologia registrou 42,3°C às 15 horas (Brasília), mas este valor poderá subir na nova leitura que será feita às 21 horas (Brasília). 
O recorde de calor histórico anterior em Cuiabá era de 42,2°C em 6 de outubro de 1940.

O valor de temperatura máxima de 16 de setembro foi o maior para o ano de 2019 e também a mais alta temperatura já observada em Cuiabá em 108 ano de medições. A estação meteorológica operada pelo INMET que fez a medição começou a funcionar em 1/1/ 1911.

Semana acima de 40°C

A população de Cuiabá vai continuar sentido o calor acima dos 40°C pelo menos até o próximo sábado, 21 de setembro. Tem previsão de algumas pancadas de chuva a partir da tarde do dia 19, mas até lá, não se pode descartar a chance de um novo recorde de calor.

Quarentona

Cuiabá, junto com Palmas, capital do Tocantins, Rio de Janeiro, capital do estado do Rio de Janeiro e Teresina, capital do Piauí, podem ser chamadas de “capitais quarentonas” porque praticamente todos os anos registram 40°C ou mais pelo menos uma vez. 
Este ano, a temperatura já chegou aos 41,2°C em 3 de janeiro no Rio de Janeiro e aos 41,9°C em Palmas, em 13 de setembro.


Foto de Antonio Carlos da Silva Pereira, Cuiabá (MT)

sábado, 8 de junho de 2019

MOVIMENTOS SOCIAIS “FRITAM” BOLSONARO E SUA EQUIPE EM ATO PARA MARCAR DIA INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE NA UFMT


https://www.adufmat.org.br/portal/index.php/comunicacao/noticias/item/3923-movimentos-sociais-fritam-bolsonaro-e-sua-equipe-em-ato-para-marcar-dia-internacional-do-meio-ambiente-na-ufmt?_mrMailingList=2121&_mrSubscriber=1038

sexta, 07 Junho 2019 17:25

MOVIMENTOS SOCIAIS “FRITAM” BOLSONARO E SUA EQUIPE EM ATO PARA MARCAR DIA INTERNACIONAL DO MEIO AMBIENTE NA UFMT DESTAQUE

Escrito por  
    Movimentos sociais “fritam” Bolsonaro e sua equipe em ato para marcar Dia Internacional do Meio Ambiente na UFMT
Bolsonaro é inimigo do meio ambiente, e o mundo inteiro está de olho nele por isso. Sua proximidade com o Agronegócio, que resulta nas reclamações acerca da rigidez da legislação ambiental brasileira e, consequentemente, suas investidas para esfarelar o que ele considera “empecilho ao desenvolvimento”, já renderam algumas advertências internacionais e muita revolta popular.
Por isso, no Dia Internacional do Meio Ambiente, 05/06, movimentos sociais fritaram o presidente e sua equipe num ato simbólico realizado em frente ao Restaurante da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Fritar os membros do governo foi uma alusão ao aquecimento global evidenciado pela comunidade científica, mas questionado por grupos econômicos que almejam a exploração do meio ambiente com a finalidade exclusiva de lucrar. De acordo com a professora Michele Sato, que participou das atividades na UFMT, apenas 3% dos pesquisadores negam o aquecimento global, porque são financiados especialmente pela multinacional Exxon (dona da Esso), a Koch Industries (dos irmãos estadunidenses Charles e David - que têm forte influência sobre as eleições nos Estados Unidos), e sindicatos patronais.
Além do ato antropofágico, os participantes realizaram debates ao longo do dia para discutir temas como “Dimensões Ambientais”, com a pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental, Comunicação e Arte (GPEA/UFMT) Déborah Moreira, o coordenador do Centro Burnier de Fé e Justiça e membro do Fórum de Direitos Humanos e da Terra (FDHT), Inácio Werner, além do representante do Grupo Carta de Belém, Pedro Martins.  

A mediação do debate foi feita pelo secretário executivo do Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad), Herman Oliveira.
Às 15h, o grupo se reuniu no Fórum de debates socioambientais com os movimentos sociais indígenas, quilombolas, negro, atingidos por barragens, migrantes e LGBTs, mediado pela professora Michele Sato.
Os debates foram realizados no Museu Rondon.
Luana Soutos
Assessoria de Imprensa da UFMT   

CARTA DO FÓRUM DE POLÍTICAS SOCIOAMBIENTAIS


CARTA DO FÓRUM DE POLÍTICAS SOCIOAMBIENTAIS


Nós, participantes do Fórum de Políticas Socioambientais, reunidos no Dia Internacional do Meio Ambiente, vimos a público denunciar as diversas ações do governo no nível federal, com inúmeros retrocessos que ferem a desejada sustentabilidade planetária. Estas ações revelam o completo descompromisso com as questões ambientais e ausência de conhecimento tanto em relação às causas propulsoras dos colapsos climáticos e danos ambientais em geral (queima de combustíveis fósseis, desmatamento, queimadas, pecuária invasiva, uso e liberação indiscriminada de agrotóxicos, omissão na regularização fundiária, entre outros). Nesse sentido, se alinha aos setores mais degradantes, conservadores, responsáveis pelo aumento do desmatamento e queimadas, poluição de corpos hídricos, perda de pescado e biodiversidade em geral, aumento de conflitos com ameaças de morte, e muitas vezes assassinatos, principalmente das lideranças do campo.

Com a sistemática política de desmonte das autarquias, em especial aos espaços de participação responsáveis pela manutenção das 334 Unidades de Conservação, bem como as áreas da União, é utilizado o falso pretexto de uma suposta “indústria da multa”. Desta forma, lança mão de dispositivos legais (Decretos e Medidas Provisórias) que obedecem a uma racionalidade e intencionalidade muito bem demarcada, revelando o objetivo sórdido da destruição dos ecossistemas e de todas as comunidades de vida! Não há, por parte deste governo, nenhuma ação em prol de algum programa socioambiental, seja em ato normativo, ou fomento da participação democrática, que assegurem uma política de sustentabilidade, não meramente econômica, mas plena em suas dimensões ecológicas, sociais, culturais e de saúde integral.

Alguns exemplos da ditadura institucional:
-- LEI DA MORDAÇA:

  • Decretos 9.690/2019 e 9.716/2019: Instituição da Lei da Mordaça que impõe sigilo às informações governamentais o que, de certa forma, restringe o alcance e a compreensão da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011);
  • Atos e Ofícios internos que proíbem os setores de comunicação e agentes públicos de darem informações ou entrevistas.

-- A MEDIDA PROVISÓRIA 870/2019 altera atribuições de ministérios fortalecendo o setor do agronegócio:
  • O Ministério do Meio Ambiente (MMA) perde para o Ministério da Agricultura a atribuição de gestão, em âmbito federal, do Serviço Florestal Brasileiro (SFB);
  • Direciona para o Ministério do Desenvolvimento Regional a Agência Nacional de Águas (ANA), antes vinculada ao Meio Ambiente; o Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) e a atribuição de definir a política para o setor. Em razão disso, ficará com esse ministério a parcela de compensação pelo uso de recursos hídricos devida pelas hidrelétricas, que antes cabia ao MMA;
  • O texto ainda faz referência às políticas e programas ambientais para a Amazônia, e não mais à Amazônia Legal, que engloba também os estados do Mato Grosso, Tocantins e metade do Maranhão (até o meridiano de 44º);
  • MP 870 especifica, entre as atribuições do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a de controle de resíduos e contaminantes em alimentos.
  • Entretanto, o Ministério da Saúde também continua com a atribuição de vigilância em relação aos alimentos, exercida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa);
  • Extinção do CONSEA, que deixou de ser previsto como órgão de assessoramento à Presidência da República;
Traz prejuízos na elaboração de políticas relacionadas à saúde, alimentação e nutrição, bem como no papel da sociedade civil na construção e controle social de propostas voltadas à democratização e segurança alimentar.

-- DECRETO 9.760/2019 que cria o Núcleo de Conciliação Ambiental que, entre outras
coisas ocasiona:
  • Paralisação de projetos de recuperação ambiental no valor de R$ 1 bilhão de reais;
  • Aumenta a burocracia pública com a finalidade de favorecer os infratores que cometem crimes ambientais, ao flexibilizar a aplicação de multas;
  • Anistia crimes ambientais.

-- DESMONTE DO CONAMA – diminuição de 96 para 23 organizações titulares.
As entidades civis foram reduzidas de 22 para 4 e serão escolhidas por sorteio e foram eetirados do Conselho Nacional de Meio Ambiente:
  • Instituto Chico Mendes de Biodiversidade – ICMBio
  • Agência Nacional de Águas – ANA;
  • Representações indígenas;
  • Representação sanitária;
  • Representação científica feita pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC.

-- DECRETO 9.672/2019:
Destituição do Órgão Gestor da Educação Ambiental, composto pelos ministérios da Educação (MEC) e do Ambiente (MMA), ferindo a Lei 9.795, democraticamente construída pelo Governo e Sociedade Civil;

-- Negligência com o caso de Brumadinho, região de MG afetada pela mineração da Vale, e que se constituiu o maior crime socioambiental do Brasil;

-- Corte nas universidades públicas, que são responsáveis pelas melhores pesquisas socioambientais do país;

-- Fissura no desenvolvimento científico brasileiro, por intermédio da falta de orçamento nas principais agências de fomento às pesquisas socioambientais;

-- Decreto XXXX – desmonte de XX conselhos da sociedade civil que têm participado e auxiliado na construção de políticas públicas;

-- O Projeto de Monitoramento do Desmatamento da Amazônia Legal por Satélite registrou aumento de 13,7% no desmatamento na região em um ano, o maior número registrado em dez anos. Entre 2017 e 2018, 7.900 km² de floresta derrubados;

-- 109 casos de assassinatos de lideranças do campo desde 2017:
  • 71 assassinatos em 2017;
  • 28 em 2018 (anos eleitorais tendem a ter menos ocorrências;
  • 10 casos em 2019 (até abril);

-- 14 Terras Indígenas invadidas ou ameaçadas em menos de 60 dias de governo

-- Atos da Coordenação-Geral de Agrotóxicos e Afins/Mapa:
  • ATO Nº 1, DE 9 DE JANEIRO DE 2019;
  • ATO Nº 7, DE 4 DE FEVEREIRO DE 2019;
  • ATO N° 10, DE 18 DE FEVEREIRO DE 2019;
  • ATO Nº 17, DE 19 DE MARÇO DE 2019;
  • Liberação pelo MAPA, até o momento;
  • 121 novos agrotóxicos, inclusive parte deles classificados como produtos extremamente/altamente tóxicos (50 ao total - 41% dos produtos liberados);
  • Aumento em 200% na quantidade de agrotóxicos lançados no solo e no ar

-- OFÍCIO CIRCULAR Nº 1/2019/CC/PR (Desmonte da CONAREDD+ entre outros) que apresenta uma lista de 23 instâncias colegiadas, e requer análise no sentido de extinção, adequação ou fusão:
  • A comissão que cuida do PPCDAM e do PPCerrado;
  • Conselho de Gestão do Patrimônio Genético (CGEN);
  • Comitê Interfederativo que cuida dos 42 programas decorrentes da tragédia de Mariana e que integra mais de 70 entes federais, estaduais e municipais;
  • Comitê Orientador do Fundo Amazônia (COFA);
  • Conama (ver anotações acima);
  • Comissão Nacional para Redução das Emissões de Gases de Efeito Estufa (CONAREDD+);
  • Fórum Brasileiro de Mudança do Clima; e outros.

-- DECRETO 9.745/2019:
·       Negligência no acordo internacional do Clima, com discursos negacionistas da crise climática, inclusa a extinção da Secretaria de Mudanças Climáticas.

Estas são apenas algumas mostras do retrocesso socioambiental do Governo Bolsonaro em somente 6 meses de existência. Por isso, o Fórum de Políticas Socioambientais do estado de Mato Grosso vem a público repudiar o esfacelamento das medidas tomadas que aceleram o colapso planetário.

Cuiabá, 05 de junho de 2019.

Participantes do Fórum de Políticas Socioambientais, MT

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Organizadores do Fórum de Políticas Socioambientais - MT


Rede Mato-grossense de Educação Ambiental – REMTEA
 

Sindicato dos professores da UFMT – ADUFMAT
 

Fórum de Direitos Humanos e da Terra – FDHT
 

Fórum de Meio Ambiente e Desenvolvimento – FORMAD
 

Observatório da Educação Ambiental – OBSERVARE
 

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Estudo analisa projeto de lei que pretende tirar MT da Amazônia Legal

 https://noticias.ambientebrasil.com.br/clipping/2022/09/16/179606-estudo-analisa-projeto-de-lei-que-pretende-tirar-mt-da-amazonia-legal.htm...