Luiz Carlos Faria Martins



JUSTIÇA COMO ESPERANÇA NO AMANHà

A injustiça em algum lugar 
É uma ameaça 
À justiça em todo lugar 

~ Martin Luther King 


Num país onde se ausenta o leme de direção, especialmente na educação e na saúde, os mais atingidos são os povos indígenas, quilombolas, trabalhadores rurais sem-terra, povos das florestas e outros movimentos populares. Numa guinada política de causar a discórdia e conflitos, as vítimas que sempre estiveram sob ataque, são maculadas como se fossem as inimigas da sociedade, já que não oferecem potencial econômico do lucro. No momento em que o planeta adoece pela Covid-19, o Estado deprecia as ciências e as vidas humanas, já que comprovadamente, o contágio pode ser grande em escala global, mas as mortes seguem as rotas das periferias.

A violência contra os grupos sociais expostos sempre foi violenta no Brasil, gerando inúmeros casos de violações de direitos humanos e com prejuízos ecológicos em nome do capital. A conservação do ambiente foi tomada como fator de obstáculo ao crescimento econômico, e os ambientalistas passaram a ser prenúncio de mortes.

Mato Grosso é o típico retrato deste cenário, como foi o caso do Luiz Carlos Faria Martins, conhecido pela alcunha de “Mão”. Passaram-se 13 anos do assassinato do Luiz Carlos, que era fiscal da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura de Cuiabá, tendo sido um dos fundadores e membro da diretoria da Associação Mato-grossense de Ecologia (AME MATO GROSSO). Ecologista, enquanto cumpria seu dever, em 2007, ele foi assassinado por um vizinho que já tinha sido avisado para não realizar a queimada urbana em período em que estava proibido as queimadas no estado. Pai de família, trabalhador e dedicado aos estudos, o Mão era também aluno da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) no curso de Filosofia.

O acusado fugiu após o crime, nunca foi preso e até hoje reside no mesmo lugar[1]. Sua família informa de que Luiz Carlos estava trabalhando quando o crime o abateu e nada foi feito por parte da Prefeitura nestes longos 13 anos. Contudo, amanhã (23/07/2020), o assassino será julgado, sem ter cumprido um dia sequer de pena, e se utilizando de mecanismos jurídicos protelatórios, que beneficiam assassinos de um funcionário público no exercício de sua função e em plena luz do dia.

Para algumas pessoas, é mais um crime que se acumula na história de violências. E não há importância econômica em dizimar ecologistas ou povos da floresta. Entretanto, o Brasil se tornou o inverossímil campeão em assassinatos de ambientalistas no placar mundial de violências, E há diversos países que se negam a importar os produtos (e commodities) brasileiros em desagravo às políticas de destruição ambiental. Lembremos, também, que a natureza está intrinsecamente associada aos modos de vida da humanidade e a sua destruição, trará também a destruição humana no elo indissociável das vidas conectadas. Uma destruição das florestas da China, para concretizar o comércio de carne, libertou um vírus que acomete toda humanidade, numa pandemia que não se cura com cloroquina, mas exige atenção às ciências e ao cuidado ambiental.

Reconhecemos a morosidade do judiciário, entretanto, o movimento ecologista de Mato Grosso exige justiça contra as violências que matam vidas! Será urgente, e extremamente necessário, que o julgamento do assassinato do Luiz Carlos seja uma resposta certeira da justiça de Mato Grosso! E porque somos elos conectados, a justiça em Mato Grosso representa também a justiça brasileira e a mundial.

Continuamos defendendo a vida, seja ela qual for, em prol de um planeta que reduza as disparidades socioeconômicas e raciais, que zele pelas entidades múltiplas que colorem nossa Nação, e que reduza as violações dos direitos humanos e da Terra, para que consigamos ter um amanhã, sem mácula ou arbitrariedade e que possamos nos orgulhar em construir uma bonita história socioambiental.

Heitor Queiroz de Medeiros. Ex-presidente da Associação Mato-grossense de Ecologia (AME MATO GROSSO) e membro fundador da Rede Mato-grossense de Educação Ambiental, REMTEA

Michèle Sato. Coordenadora do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte – GPEA, UFMT e membro fundadora da Rede Mato-grossense de Educação Ambiental, REMTEA

[1] https://www.brasilnoticia.com.br/justica/
assassino-de-ecologista-vai-a-julgamento/14150


LUZES E SOMBRAS 


Numa tarde quente de Cuiabá 
Num céu enfumaçado pela queimada 
Ainda assim, o sol brilhava 
Circular, mágico e anunciava 

A luta de sangue do ecologista “Mão” 
Covardemente assassinado por interesses 
Dos que querem a riqueza da minoria 
Com ouro que pouco reluz à maioria 

Reflete e salga as almas em sombras 
Como fósforos queimados à procura de luz 
E a luta ecologista denuncia e anuncia 
Ainda que por pedras, chamas ou poesia 

Michèle Sato 
Ao ecologista Luiz Carlos Farias Martins (Mão) 

Ref.: Sina, ano I, n.9, 2007, p.17. 



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Brasil Notícia 22/07/2020



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