segunda-feira, 23 de julho de 2012

Organizações ambientais conquistam oito cadeiras no CONSEMA

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forest blog
http://www.forestcom.com.br/blog/noticias/organizacoes-ambientalistas-marcam-presenca-em-novo-quadro-do-consema/


Organizações ambientais conquistam oito cadeiras no CONSEMA

Novos conselheiros tomaram posse na quinta-feira e prometeram uma gestão analítica e questionadora
João Andrade
João Andrade do ICV pede para ver processo no CONSEMA, atuação de novos membros impressionou antigos funcionários 
A última reunião do Conselho Estadual do Meio Ambiente (CONSEMA) de Mato Grosso foi bem diferente do habitual. Nove novas organizações tomaram posse no auditório da OAB e terão mandato por dois anos. Já na primeira reunião do conselho a mudança gerou comentários de funcionários habituados ao antigo ritmo do órgão. “Fazia tempo que esperávamos por essa limpeza aqui no CONSEMA”, diz um técnico da Sema que pediu para não ser identificado.
As novas organizações que fazem parte do quadro são: Comissão Pastoral da Terra (CPT); Ecotrópica – Fundação de Apoio a Vida nos Trópicos; Instituto Ação Verde; Instituto Caracol; Instituto Centro de Vida (ICV); Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM); Instituto Floresta de Pesquisa e Desenvolvimento Sustentável; Instituto Socioambiental (ISA) e Organização Razão Social (OROS).
O CONSEMA é um órgão colegiado integrante do Sistema Estadual de Meio Ambiente (SIMA) e tem como função assessorar, avaliar e propor ao governo de Mato Grosso diretrizes para a política ambiental do estado. “O CONSEMA por anos vinha se atendo a analisar apenas os recursos de multas de crimes ambientais e liberação de EIA/RIMA. Deixou de ser um espaço político e um termômetro do debate socioambiental de Mato Grosso”, diz João Andrade, economista ecológico do ICV. “Queremos resgatar um dos principais objetivos desse conselho e fomentar as discussões sobre políticas públicas de Mato Grosso com a sociedade”, diz.
Edivaldo Belizário Santos, conselheiro da FAMATO, foi revisor de um processo de desmatamento de mais de dois mil hectares incluindo áreas de preservação permanente e vegetação nativa. Ele sugeriu ao conselho acatar o recurso do infrator para o não pagamento da multa. A presença dos novos conselheiros acabou por votar pela manutenção da multa.
“A previsão para os próximos anos é de que todos os processos, sejam de multas ou dispensa de EIA/RIMA, sejam analisados de forma mais embasada. Somos organizações com trabalhos enraizados por todo território mato-grossense, o que garantirá às pessoas e ao meio ambiente deste estado um posicionamento mais coerente”. Diz Amanda Fernandes, 23 anos, a mais jovem representante a ocupar uma cadeira no CONSEMA.
Texto e fotos: Thiago Foresti

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Educação Ambiental, Política, Participação e a Questão Socioambiental

BLOG DO FABIO DEBONI
http://fabiodeboni.blogs.sapo.pt/299283.html?view=37139#t37139


Educação Ambiental, Política, Participação e a Questão Socioambiental.
Quinta-feira, 19 de Julho de 2012
Entrevista com Marcos Sorrentino
Como anunciado aqui no blog, conseguimos uma breve entrevista com Marcos Sorrentino. Segue, na íntegra. Boa leitura!

* * * * * * * *

Professor da ESALQ/USP, líder da OCA – Laboratório de Educação e Política Ambiental da ESALQ e ex-diretor do Departamento de Educação Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Marcos Sorrentino é grande conhecedor do campo socioambiental. Referência na área da Educação Ambiental, teve uma passagem marcante pelo MMA, entre 2003 e 2008, quando alavancou diversos programas e iniciativas, dentre elas o Sistema Nacional de Educação Ambiental (SisNEA).
O Blog preparou algumas questões para esta entrevista, feita por e-mail, com Sorrentino.

Blog: Todos sabemos que o processo que culminou com sua saída do DEA/MMA gerou muita polêmica. Passados estes anos, qual sua avaliação sobre o que ocorreu? Se sentiu injustiçado?
Não se pode falar em injustiças no campo da política. Há correlação de forças e infelizmente aquelas mais retrógradas, que confundem campanha de redução de sacos de lixo com EA, ganharam hegemonia no DEA, amparadas por discursos pseudo-marxistas que reivindicavam outra condução para o ProNEA e para a política pública do Órgão Gestor da PNEA.
Lamento a falta de responsabilidade e dignidade daqueles que substituíram a mim e a boa parte da equipe que atuava no DEA/MMA. De responsabilidade por reivindicarem o cargo e a direção política da EA no governo federal e não terem nenhuma proposta, além do desmonte do que estava sendo realizado. De dignidade, por terem plena possibilidade de diálogo conosco, mas terem preferido tramar na calada da noite e não terem sequer aberto um canal de comunicação com quem saia, ignorando os compromissos da administração pública.
Fiquei feliz com a reação da sociedade e com o fato deles terem percebido a insustentabilidade do que buscavam e terem caído fora, abrindo espaço para a manutenção de alguns técnicos de alto nível, como Renata Maranhão e para o convite ao companheiro Nilo Diniz assumir a coordenação do DEA/MMA.
A minha maior gratificação foi no VI Fórum Brasileiro de EA, termos recebido uma aclamação pública dos participantes, reconhecendo todo o esforço da abnegada e competente equipe que esteve no DEA no período de 2003 a 2008.

Blog: Quais são seus planos profissionais atuais? O que anda aprontando?
Retomei os meus trabalhos na Universidade – ensino, pesquisa, extensão e gestão cotidiana no campo da EA. Recebi um convite, recentemente, para assessorar o ministro da educação na construção de uma política ambiental do ministério (MEC) e estou aguardando a decisão do departamento da universidade onde trabalho, se me cedem novamente para mais esse desafio. Há uma forte oposição a minha saída, tendo em vista que já estive durante cinco anos afastado para servir ao MMA.

Blog: Espera-se muito da Educação Ambiental, mas não acha que seria injusto apostar todas as fichas nela para alavancar as transformações socioambientais que o mundo requer? Como lidar com este dilema?
A EA é parte das possibilidades de mudanças que precisamos e queremos ver em nossas sociedades. Paulo Freire já disse algo importante sobre isto. Essa é uma das frentes necessárias de atuação e todos reconhecem a sua importância, mas dificilmente destina-se os recursos necessários para tal.

Blog: Com o multissetorialismo da questão ambiental, acha que a temática vem se esvaziando e perdendo radicalidade?
Sim, a questão ambiental, com todo o seu potencial de transformação social vem sendo sequestrada pelo discurso hegemônico, travestindo-a de desenvolvimento sustentável ou de economia verde. A EA e o ambientalismo, enquanto movimento social que tem um projeto de sociedade, necessita organizar-se melhor para colocar alternativas de futuro e de felicidade para uma humanidade entorpecida pelo consumismo e por promessas de bem estar material que não respondem aos questionamentos mais essenciais dessa nossa aventura pela Terra.

Blog:  Há uma crítica de que o Governo Dilma vem trabalhando para esvaziar e retroceder a política ambiental federal. Qual sua visão sobre esta questão? Qual sua avaliação sobre a política ambiental de Dilma?
Não penso que há um trabalho de governo nesse sentido, mas que há setores  absolutamente comprometidos com esse retrocesso ambiental e que há outras parcelas importantes do governo, absolutamente comprometidas com a melhoria das condições existenciais do povo brasileiro e daqueles que passam fome em todo mundo. E para tanto não medem esforços para promover o desenvolvimento das forças produtivas. Esforços que se equivocam em não dar a devida importância para a questão ambiental, comprometendo a “galinha dos ovos de ouro”. Por outro lado ainda, há políticos e gestores que reconhecem tal importância, inclusive da EA e procuram navegar nesses mares fazendo um importante papel de convencimento e de pequenas conquistas no fortalecimento da sociedade brasileira engajada  nas melhorias das condições socioambientais de nosso povo.

terça-feira, 10 de julho de 2012

ENCONTRO UNITÁRIO DAS TRABALHADORAS E TRABALHADORES E POVOS DO CAMPO, ÁGUA E FLORESTA


ENCONTRO UNITÁRIO DAS TRABALHADORAS E TRABALHADORES E POVOS DO CAMPO, ÁGUA E FLORESTA

Local: ENFOC - Escola Nacional de Formação da CONTAG
Várzea Grande, MT

10/07/12 - período integral
Palestrante: Sérgio Sauer, UnB
HISTÓRICO do mov de campo, com ênfase em 10 atores sociais:

  1. década de 40 - camponês
  2. 1963 - trabalhador rural
  3. 1964 - pequeno produtor
  4. 1973 - povos indígenas
  5.            posseiros
  6. 1984 - MST
  7. 1988 - seringueiros / extrativistas
  8.            Quilombolas
  9.  1991 - Atingidos da Barragem / MAB
  10. 1993 - agricultor familiar


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RELATO DE HERMAN DE OLIVEIRA

RELATO DA RE-UNIÃO DOS POVOS DO CAMPO

O objetivo deste encontro é o fortalecimento dos povos do campo, (das águas e da floresta, inclusive no bojo de um movimento maior e ampliado), entendendo que um movimento unificado pode e deve fazer frente às questões inerentes às condições de vida e dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras do campo, bem como os povos das águas e das florestas. O entendimento é de que os “problemas e falsas soluções” pertinentes e decorrentes do agronegócio e do hidronegócio têm fortemente atingido o campo em diferentes e diversas dimensões, notadamente entre os mais jovens.
Os movimentos sociais de maneira geral sentem a necessidade de efetivar esta união, guardadas as diferenças, em torno daquilo que for comum (agenda) e consenso (objetivos), criteriosamente observadas as identidades que, a propósito delas, podem e devem ser respeitadas pelo bem da riqueza que ela pode proporcionar. O respeito a esta diversidade cria condições de luta mais interessantes na capilaridade e alternativas de “formas de luta” e, nesta perspectiva, Sérgio Sauer apresenta “50 anos de lutas dos sujeitos do campo” em dois eixos principais 1) História (dados) e 2) Conjuntura atual a fim de que os pontos de convergência sejam  entendidos na forma de atuação dos sujeitos e da história por eles composta e escrita.
A partir das lutas e organizações dos trabalhadores rurais modifica-se o status desses sujeitos que, então, saem da invisibilidade para pleitear os mesmos direitos que os trabalhadores urbanos (sindicalização, CLT, etc...) e alçar uma dimensão política sociológica em outro viés. Importante reconhecer que a condição da organização espacial do campo (latifúndios historicamente estabelecidos e trabalhador do campo em condição semiescrava ou “caipira”). Oras, a primeira organização em torno de um direito fundamental (solicitar ao dono da terra auxílio para enterrar os próprios mortos, em virtude da falta de dinheiro será) a gênese das organizações do campo, baseadas nas identidades do campo (camponeses e trabalhadores rurais, respectivamente).
As ligas estavam separadas em três grupos que entendiam de maneira diferente as bandeiras de luta para conseguir condições dignas no campo ou posse da terra, mas mesmo na diferença foi possível realizar um grande congresso em BH/MG, onde a reforma agrária foi a tese vencedora. Martins defende que o golpe militar de 1964 é uma reação à Reforma Agrária, com a tomada à força da Contag, criação do Estatuto da Terra, desmobilização do campo através dos programas de “oferta” de terra nas regiões Norte e Centro-Oeste e, na esteira, dentro de um processo Econômico-Político-Social, numa modernização conservadora dos processos de produção realiza a Revolução Verde com mecanização, implementação de insumos químicos e da matriz produtiva com a aposta  nos grãos. Importante destacar que a concentração de terra e, por ela, a base colonial ainda permanecem, ou melhor, são as condições conceituais de manutenção da estrutura.
Após o golpe militar de 1964 a situação de opressão era de tal ordem que não era possível a organização dos trabalhadores em nenhuma região ou território, porém, após cerca de 10 anos (1973-5) surgem dois movimentos fortes que evidenciam outras formas de luta e organização e sujeitos: Cimi e CPT. E, então, 10 anos mais tarde (1985) a organização dos trabalhadores do campo enseja a criação do MST em torno das lutas do campo, da falta de condições de trabalho e da própria falta de terra.
As organizações, os sujeitos e as bandeiras ensejam outras formas de luta, com novas táticas, nessas práticas (ocupação, legislação...) as lutas pela terra subjazem às identidades que as encampam: camponeses, trabalhadores rurais, indígenas, posseiros, trabalhadores sem terra, pequeno produtor, atingidos por barragem, ambientalistas, quilombolas...
O patrimonialismo, como dimensão política acima da dimensão econômica, é uma base conceitual de “direitos” que obstaculiza a reivindicação dos povos no alcance de direitos garantidos constitucionalmente. Os lídimos representantes desta ideologia são a SRB, OCB, CNA e UDR que vão criar a Frente Ampla da Agricultura que cria a Abag cujo principal representante é o senhor Roberto Rodrigues com articulação, embora não possua a mesma força de OCB e CNA, e aposta no conceito de agronegócio com inclusão da grande mídia além, é claro, de grandes multinacionais. A Revolução Verde é a base de propulsão em que o discurso dicotomizado (economia – patrimônio) justifica o latifúndio e a mecanização a despeito dos apelos pela vida. Nesse contexto a discussão de modernização ataca o pequeno proprietário e o pequeno produtor rumo à modernização e contra o arcaísmo das práticas, obviamente desconsiderando as questões socioambientais de sustentabilidade, identidade, inter-relações pessoais, ou seja, no campo ecossistêmico.
A lógica camponesa e de agricultura familiar, guardadas suas diferenças conceituais mais “modernas”, pode agregar os mesmos sujeitos no campo se e quando esses sujeitos não trabalham com a lógica do capital, mas concebem seu manejo em torno da família, não no sentido moral de família, mas no sentido das necessidades e demandas desta.
O modelo econômico hegemônico que inclui, obviamente, o modelo hegemônico do campo resulta na busca ou produção de matéria prima/commodities para exportação, ou seja, a permanência do pensamento colonialista. Nesse contexto as crises, desde 2008, são entendidas como provenientes das disputas nos campos Food, Fuel, Forest and Fiber com deslocamento de poder no eixo das BRICS que representam os grandes mercados e o aumento dos negócios entre China e Brasil, por exemplo. Assim, um outro processo se adensa no Brasil e, embora não haja consenso em relação a isso, é chamado de reprimarização ou commoditização que significa a perda de espaço da indústria e, claro, a exportação da matéria in natura que cria superávit, mas fragiliza o campo socioambiental com alta financeirização (dependência do mercado de bolsas em virtude da comercialização financeira no mercado de futuros) e aumento ou pressão para manutenção da concentração fundiária.
Do ponto de vista dos processos da modernidade (dissociação do tempo e do espaço da corporeidade ou materialidade ecossistêmica) não há nenhum espanto, pois a ficha simbólica que, mais ainda no mercado de futuro que nem trabalha com moeda propriamente, projeta a produção já não mais em termos das quantidades mensuráveis daquilo que é produzido, mas em sua representação no crescimento dos mercados e, neles, a força do capital especulativo. Portanto, esta dissociação oblitera a visão de que a produção requer um substrato material, representado pelo espaço físico da terra, no campo financeiro, mas que se mantém na perspectiva da propriedade absoluta da terra.
Após as apresentações (Jangada, Chapada dos Guimarães, Poconé, Olga Benário)realizamos os encaminhamentos acerca da importância deste encontro e daquilo que foi discutido, na forma como cada entidade pode se articular e de que maneira poderá contribuir.
A visada histórica, da forma como foi apresentada, apresenta o acirramento dos conflitos e isso fica explícito no Caderno de conflitos da CPT e isso tende a aumentar nas disputas por terras, no processo de territorialização dos espaços na pressão e luta por recursos naturais (no entendimento do agronegócio) em confronto com um modo de vida (agricultura familiar-camponesa). Portanto é necessário criar um projeto popular (formativo, lutas, unificação...) em que a pauta comum:
Questão fundiária: Terra e território (grilagem, demarcação, terras devolutas)
Reconhecimento e respeito às identidades dos sujeitos do campo
Água
Políticas públicas: crédito, mercado, marco regulatório, educação no campo
Mudança no modelo de produção: manejos, assistência técnica
Organização social: fim da criminalização e reconhecimento do papel social da terra
O encontro em BSB tem um caráter dialógico: unificação da luta/pauta; contribuições de MT; contribuições do encontro para serem socializadas posteriormente à BSB.
O Encontro dos Povos tem um caráter simbólico, por isso os 50 anos na apresentação, isso se traduz no fenômeno de dar a conhecer as diversas e diferentes identidades, mas também que fragmenta os povos. Assim resta-nos observar detidamente de que forma poderemos unificar as lutas sem perder a rica heterogeneidade e isso pode traduzir-se nas diferentes formas de re-existir para além das ocupações como reconhecimento das diferentes táticas de luta pela terra. Com uma década de governos progressistas como avançamos? Já que os dados oficiais mostram o decrescimento da pobreza, mas não representa o término, sequer a diminuição da desigualdade. Assim, é preciso pensar uma pauta comum em termos de políticas estruturantes que nos sejam comuns que se realize numa tática fortalecida que preserve as diferenças e unifique as lutas em ações e projetos que estejam alinhadas minimamente numa mesma perspectiva.
Fragmentação das lutas associada a uma luta estrutural
O simbolismo contido nos 50 anos que celebre iconograficamente nossas lutas e que exigem de nós todos a unificação da luta de maneira que a clareza do processo e do contexto se traduza no momento em que será necessário repassar às bases.
DATA: 20 A 22 DE AGOSTO
EQUIPE DE ARTICULAÇÃO: MST, Fetragri, CPT, Cimi, Formad, Remtea (se reunirá dia 16/07 às 14h na sala 66 do Instituto de Educação/UFMT
Meta por organização:
Organização      ônibus  Pessoas
Fetagri                 2             80
MST                      2             80
CPT                       1              40
MAB                                     20
MMC                                    20
MPA                                    
PJR                                      
Quilombolas      1              40
As várias entidades da equipe de organização se responsabilizam pela articulação dos grupos não representados hoje (10/07). Quilombolas e indígenas, morroquianos e retireiros, pescadores artesanais e demais atingidos, procurando ter o cuidado com as questões de gênero e faixa etária (mulheres, homens, jovens, crianças e adultos).
Finalmente, fechamos o evento com a proposta da DHESCA (rede de entidades nacionais de diversas ordens, pertencentes à sociedade civil ligadas a direitos humanos e ambientais e tratados nesta plataforma) em que os relatores (entre eles Sérgio e Michèle) têm missões (conflitos e questões sobre DH) devem assistir. Portanto, os relatores fazem combinações com as entidades locais e regionais, a fim de que as articulações em que os atingidos são ouvidos e que resultam num relatório que dê visibilidade ao problema. Nesse sentido Marãiwatsédé se encontra num contexto emblemático de uma situação de extrema violação de direitos humanos, principalmente em virtude dos últimos acontecimentos (fechamento da estrada, conflitos e instigados pelos fazendeiros intrusos, incêndio, ao que tudo indica, criminoso atingindo o gado dos xavante, ou seja, diretamente relacionado com a questão alimentar, de maneira a inviabilizar a permanência dos xavante dentro da TI.
É necessário criar uma articulação entre as entidades envolvidas ou próximas da área a fim de que seja agilizada e acelerada a ação da Relatoria de Direitos Humanos em virtude do acirramento do conflito, localmente com possibilidade de desdobramentos ainda mais violentos. 


domingo, 8 de julho de 2012

Rebea

encontro da REBEA - rio20
relato de HERMAN OLIVEIRA


Rebea
A reunião de facilitadores das redes iniciou com a retrospectiva dos acordos firmados nos encontros anteriores (V e VI Fóruns, reunião da Rebea em 2008)
Diogo (Reago)­­
Herman (Remtea)
Adrielle (Rejuma)
Thiago (Rejuma-Remtea-Cj)
Breno (Reaba)
Tita (Reaba)
Henriqueta (Repea)
Nilce (Rea Serra Órgãos – Rearj)
Fidélis (Rede Carajás)
Denize (Recea-capixaba)
Andrea (Recea-capixaba)
Soler (Recea-capixaba)
Amanda (Reago)
Zack (Cj-GO)
Silon (Cj-GO)
Maristela (Rede Cerrado-Reams-CJ-Kairós)
Simone (Reago-Rede Aguapé-Reams...)
Aloisio (Rede Mineira de Ed Amb)
Cinthia (Rejuma, CJ)
Rodrigo (CJ-MS)
Jorge Amaro (Reasul)
Victoria (ReaPB)
Marcos (Rede de Acesso Livre)
Thiago Lima (Rearj)
Declev (Rearj)
Jorginaldo (Rearj)
Jacqueline (Rearj)
Fatinha (Rearo)

Último encontro oficial para aprofundamento metodológico para discussões no âmbito da Rebea não foi efetivado a não ser em 2008.
Há previsões de três momentos distintos para discutir a Rede Brasileira de Educação Ambiental.
Não existe um ponto de referência para os enredados a não ser a lista de discussão (Yahoo e Facebook), mas isso não significa que haja circulação de informações, ou seja, pode ser que, numa perspectiva de fortalecimento de rede, a comunicação seja um problema e isso representa uma questão maior na medida em que a comunicação é aquilo que mantém a rede viva.
A proposta de retirada da facilitação de dentro da Rebea teve pontos positivos e problemas em virtude da ampliação das discussões num campo minado, heterogêneo e de diversidade de opiniões.
É necessário que a rede compartilhe mais informações na medida em que alguns atores se sentem prejudicados por não receberem estas informações ou não participarem do processo de criação destas.
Os encontros presenciais são importantes para a vida das redes e a dinâmica de interação entre instâncias diferentes auxiliam nos processos de fortalecimentos locais.
As formas de fortalecimento da Rebea têm que respeitar os processos horizontais e democráticos e a secretaria executiva deve auxiliar nesses processos e agilizar as formas de fazer valer esse espaço. Ainda que a lista geral seja agregadora de diversos atores e, por isso, possa representar o que há de mais democrático na própria rede, não o é de fato, na medida em que há imensas dificuldades de fazer encaminhamentos e tomar posicionamentos que façam da Rebea uma rede reconhecidamente forte em sua capacidade de luta e enfrentamento nas arenas políticas.
PROPOSTAS:
No campo da gestão: encontrar a melhor forma de realizar dentro da perspectiva da rede;
Manter as dinâmicas dos fóruns de educação ambiental (reunião Rebea);
Criar os canais virtuais de comunicação;
Apoiar com recursos financeiros o próximo encontro de educação ambiental (abrir edital pelo Mec para a Rebea e para as redes estaduais);
Ampliar os canais de comunicação com movimentos sociais;
Criação de GT’s;
Apropriação das mídias ou “do” Mídia Social da Rebea pelos seus diversos atores;
Ter uma referência política (Carta da Praia Vermelha);
Criação de salvaguardas para que a Facilitação não seja meramente uma “fala” individual, mas emane o desejo do coletivo;
Organização em colegiado para a secretaria executiva; e
Reativação da lista de facilitação.
Não pude ficar até o desfecho, devido à necessidade de atendimento médico (oftalmo) na crise ocular que adquiri no RJ.
Há-braços
Herman Hudson de Oliveira
GPEA/REMTEA/ICaracol/Formad

Relato de impressões em dois momentos da Cúpula.

enviado por HERMAN H OLIVEIRA

---------- Forwarded message ----------
From: herman hudson oliveira <tiohermy@gmail.com>
Date: 2012/7/8
Subject: [FDHT_MT] Adiar o riso de bordões (3)


Relato de impressões em dois momentos da Cúpula.
ENTRE TENDAS E OUTRAS CONTENDAS
Fragmentos de um não marxista
Nesta atividade autogestionada as críticas feitas ao sistema capitalista se dão em função da força monetária, das finanças e precificação da vida, mercê de um processo de mercantilização como destaque dos debates na atualidade.
Contudo, para além deste processo ou em seu bojo, é que a suprema racionalização em setores diversos da sociedade, patriarcal, diga-se de passagem, significa que o campo sensível, feminino, da emotividade, nunca é resultado ou resulta como componente de discussões na sociedade e entre os movimentos sociais. Portanto, resgatar um movimento revolucionário, emancipatório e crítico, deve se apresentar de maneira inovadora (embora as prospecções deem conta de que essa crítica ao patriarcado não seja nova).
Uma abordagem sobre os fragmentos de Marx que apresenta a atualidade de seu pensamento na relação entre tempo-trabalho-riqueza na crise ou colapso do capitalismo, não obstante sua capacidade de se recompor. Nesta relação o tempo mínimo para dedicação ao trabalho estaria em relação de proporcionalidade com o tempo máximo para a auto realização, mas com um componente de substituição do trabalho manual pelo trabalho mecanizado e, então, o componente de concorrência no campo trabalhista incorpora novas dimensões. Todavia, e de maneira basilar, a “atribuição de valor” (talvez fosse melhor chamar de precificação) que se faz em todas as dimensões da vida não muda em nenhuma configuração política, socioambiental e, obviamente, econômica.
A Educação e a Ambientação
As questões sobre educação ambiental em declarações de diversas gerações de educadores ambientais de diferentes setores e espaços dá-se desde os espaços empresariais, nas apostas em mobilização e discussão política como saída da crise atual, passando por adolescentes que invitam esforços no sentido de viralizar campanhas que possam sensibilizar a opinião pública aumentando o nível de eficiência de campanhas e articulações no campo hiperveloz das redes e mídias sociais.
A forma como todos observam o momento atual tende a oferecer uma visão ao mesmo tempo crítica e compromissada, mas também otimista, embora ainda não saibamos de que maneira é possível fazer a guinada transformando a sociedade antes que esta mesma sociedade sucumba, mercê das formas de uso e permanência neste planeta, formas estas altamente predatórias de ecossistemas e de si mesmos.
Alguns pregam a transformação através do amor universal, outros através de lutas mais intensas, outros ainda asseguram que a modificação ainda é possível no campo da institucionalidade, porém todos são unânimes em dizer que este sistema não tem condições de manifestar e deixar manifestar nossas inquietudes e expressões, necessidades e propostas, em suma, esta estrutura n]ap representa anseios sustentáveis em nenhuma dimensão justamente porque não tem capacidade para suportar as diversas dimensões e formas da vida.
Aquilo que chega até a Cúpula como ressonância da Rio+20 é tomada como e com escárnio pelo fato de que pseudo decisões e metas  são representativas do nível de preocupação com as condições dos que sofrem com as transgressões aos direitos difusos, claro, no que diz respeito aos interesses da coletividade, a saber: moradia, ambiente saudável, trabalho digno, energia, segurança alimentar, educação de qualidade, respeito á diferença. O contraponto ao pacote de “felicidade” oferecido a todos (eu disse oferecido) pelo atual sistema econômico são as discussões da Cúpula, ainda que este evento fique, como a população que aqui transita, na invisibilidade e fora do alcance do que se possa chamar de políticas públicas ou mesmo extensão de direitos.

Herman Hudson de Oliveira
GPEA/REMTEA/ICaracol/Formad

terça-feira, 3 de julho de 2012

A Rio+20 e a submissão ao poder financeiro

CARTA MAIOR
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20503&boletim_id=1263&componente_id=20572



A Rio+20 e a submissão ao poder financeiro

O documento final da conferência das Nações Unidas não menciona nem uma única vez a crise econômica e financeira global. Pouco importa que a crise já tenha se convertido na Segunda Grade Depressão. De alguma maneira, os funcionários do Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA) consideraram que esse assunto não era relevante em uma conferência sobre sustentabilidade. Tentaram tapar o sol com um dedo, ignorando o fato de que o setor financeiro é o epicentro da crise global. O artigo é de Alejandro Nadal.

A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (CNSD), mais conhecida como Rio+20, veio e foi embora. Poderia ter sido um ato importante, em vez disso, estabeleceu um novo padrão de como tornar-se irrelevante. A receita é simples: basta fazer de conta que nunca ouviu falar da crise global.

O documento final da UNCSD não menciona nem uma única vez a crise econômica e financeira global. Pouco importa que a crise já tenha se convertido na Segunda Grade Depressão. De alguma maneira, os funcionários do Programa das Nações Unidas sobre Meio Ambiente (PNUMA) consideraram que esse assunto não era relevante em uma conferência sobre sustentabilidade.

O PNUMA procurou levar adiante sua iniciativa sobre a economia verde. No relatório apresentado no Rio ela é definida como uma economia que aumenta o bem-estar, diminui a pobreza e melhora o meio ambiente. Tratar-se-ia de uma economia socialmente inclusiva, com baixas emissões de gases do efeito estufa e grade eficiência no uso e manejo de recursos.

Para transitar a uma economia verde é necessário investir 2% do PIB mundial (anualmente entre 2010-2050) em 10 setores chave. É uma quantidade importante. Onde se podem encontrar esses recursos? O PNUMA responde sem rubor: no setor financeiro. Segundo esta agência, o setor financeiro tem a sua disposição uma montanha de recursos e cada vez está mais interessado em uma carteira de investimentos que minimiza o custo ambiental e social, ao mesmo tempo em que capitaliza com tecnologias verdes.

A amizade do PNUMA com o setor financeiro é confirmada quando se mencionam os mercados e instrumentos que agora estariam do lado da justiça e da saúde ambiental: bônus verdes, bônus de carbono, REDD+, e ativos de propriedade verde, etc. Aí está: a financeirização da natureza. Nunca ocorreu aos funcionários do PNUMA que o desenvolvimento destes mercados novos provém da busca de espaços de rentabilidade em um mundo no qual a economia real permanece estancada.

O PNUMA no Rio tentou tapar o sol com um dedo. Quis ignorar o fato de que o setor financeiro é o epicentro da crise global. O colapso da economia mundial se mantém em aumento porque a opacidade das operações financeiras acelerou o contágio ao princípio e agora impede a reativação do mercado interbancário.

O PNUMA tem razão: o setor financeiro cresceu muito nos últimos vinte anos. Mas não lhes ocorre que isso é precisamente um sinal da patologia da economia global? O estancamento dos salários há três décadas explica o crescente endividamento das famílias. A demanda agregada foi impulsionada pelo endividamento e isso, por sua vez, explica como se levou a cabo um processo de redistribuição da riqueza dos mais pobres aos mais ricos. Instrumentos como os cartões de crédito, os empréstimos para estudantes ou para automóveis foram verdadeiros aspiradores para sugar recursos dos lares e levá-los aos bancos.

Um dos fatores que explica a expansão do setor financeiro é sua inclinação para introduzir inovações que fizeram as operações do setor mais opacas, disfarçaram riscos, aumentaram a propensão à volatilidade e incrementaram os níveis de influência. A financeirização converteu muitas operações em zona vedada para os reguladores e agências de supervisão. A autorregulação só proporcionou a ilusão de que se estava fazendo algo para frear os abusos.

Um ponto fundamental que o PNUMA não pode entender: uma proporção significativa da montanha de recursos em mãos do setor financeiro é riqueza contábil. Provém de um típico processo de inflação de ativos, ou seja, de uma bolha. A crise é a forma de destruir esse patrimônio que só existe na contabilidade. Para analistas como Nouriel Roubini ou Dean Baker, ainda falta muito para o processo deflacionário completar sua tarefa.
Além disso, uma parte desses recursos financeiros provém das operações de criação monetária dos bancos. Por exemplo: com seus empréstimos, os bancos da União Europeia criaram bilhões de euros do nada ou, como dizem, ex nihilo. E só uma fração minúscula desses créditos esteve respaldada por depósitos. O balão gigante ainda está esvaziando.

O PNUMA deveria estudar com seriedade a relação entre os setores financeiros e a realidade da economia. Os canais de transmissão entre estes setores são críticos para a manutenção da estabilidade macroeconômica. Em nossos tempos, as operações no setor financeiro propagaram e amplificaram a turbulência e puseram de joelhos a economia real. Caramba, até uma organização tão conservadora como o Comitê de Supervisão de bancos da Basileia (dependente do Banco Internacional de Compensações) se preocupa com estes temas. Por que os funcionários do PNUMA não podem fazer o mesmo?

(*) Alejandro Nadal é membro do Conselho Editorial de Sin Permiso.

Tradução: Libório Junior

Os quatro grandes fracassos da Rio+20


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Os quatro grandes fracassos da Rio+20 e o conservadorismo do Brasil. Entrevista especial com Eduardo Viola

"O que o Brasil fez na Rio+20 foi tentar diminuir ao máximo o componente ambiental e global da Conferência. E isso tem a ver com o fato de que a presidente Dilma e o núcleo do governo tem uma visão bem tradicional do desenvolvimento econômico, constata o sociólogo da UnB.
Uma das expectativas da Rio+20, a partir da discussão central da governança global, era a criação de um novo organismo ambiental internacional, que substituísse oPrograma das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, e pudesse “definir estratégias normativas, avaliar os países e eventualmente punir países que não cumprem os compromissos assumidos”. A criação deste organismo não foi possível porque “a maioria dos países, com exceção da União Europeia, não quer ceder soberania nacional para desenvolver governanças globais”, dizEduardo Viola.
Na entrevista a seguir, concedida por telefone à IHU On-Line, o sociólogo avalia quais os foram os principais impasses e retrocessos da conferência e afirma que a crise econômica impossibilitou avanços significativos, mas ela “poderia ter favorecido a criação de um fundo de apoio para a transição e adaptação das mudanças climáticas dos países pobres”. Diante da terceira grande crise econômica, ele enfatiza que ela é ainda mais profunda do que as anteriores, pois “está relacionada à exaustão dos limites planetários”. “Essa visão é negada pelos grandes líderes mundiais, que querem recuperar a crise voltando ao passado, investindo em um crescimento convencional, quando se precisa superar a crise mudando radicalmente de paradigma”, assegura.
Em relação à mobilização da sociedade civil na Cúpula dos Povos, Viola acrescenta que elas contribuem para o debate, mas enquanto “não se tornarem maioritárias, não mudarão a dinâmica intergovernamental, porque os governos, em grande medida, representam as suas sociedades. O atraso do governo representa o atraso da sociedade na compreensão e enfrentamento dos problemas. Quando falamos da sociedade civil, estamos falando de uma sociedade minoritária, militante, consciente, muito preocupada com o bem público. Mas isso não representa toda a sociedade e a população mundial”.

Edutardo José Viola é graduado em Sociologia pela Universidade de Buenos Aires, especialista em Relações Internacionais pela Fundación Bariloche, mestre em Sociologia pela Universidade de Campinas – Unicamp, doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, e pós-doutor em Economia Política Internacional pela University of Colorado. Atualmente é professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília – UnB e coordenador da Rede de Estudos e Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais e Relações Internacionais.
Confira a entrevista. 

IHU On-Line – Antes da Rio+20, o senhor havia dado declarações de que a conferência não teria condições de ser bem-sucedida. Sua opinião se confirmou? Por quais razões a Rio+20 fracassou?
Eduardo José Viola – Sim, a expectativa se confirmou, inclusive foi um pouco pior do que eu imaginava. O primeiroaspecto que demonstra o fracasso da conferência diz respeito à eliminação da questão dos limites planetários do documento final. Essa discussão sobre os limites planetários estava no documento original, mas foi retirada muito provavelmente por pressão de vários países do G77, como a Índia, por exemplo. Essa era uma questão-chave na medida em que se fala de desenvolvimento sustentável, pois hoje existe um limite planetário, ou seja, a margem de manobra hoje é muito menor do que aquela de vinte anos atrás. São sete os limites planetários, e três já foram ultrapassados: as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e o ciclo de acumulação do nitrogênio.

segundo ponto que caracteriza a Rio+20 como um fracasso é o fortalecimento do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, que é uma declaração genérica e vaga num momento em que se precisava de uma transformação muito forte para colocar-se em correspondência com as necessidades apontadas pela ciência do ponto de vista da governança ambiental global. Precisávamos de uma organização ambiental global não apenas como uma agência especializada das Nações Unidas, como propunha a União Europeia – a mais avançada que havia na mesa –, mas de uma organização tal ou mais poderosa que a Organização Mundial do Comércio – OMC, ou o Fundo Monetário Internacional – FMI. Não foi possível avançar nesse sentido porque a maioria dos países, com exceção da União Europeia, não quer ceder soberania nacional para desenvolver governanças globais. Nesse aspecto, o Brasil também se inclui. Então, falta uma organização internacional poderosa que possa definir estratégias normativas, avaliar os países, e eventualmente punir países que não cumprem os compromissos assumidos.

Os Estados nacionais, as populações e a opinião pública são mais nacionalistas. Hoje a defasagem entre a ciência e a opinião pública média do mundo é gigantesca, porque a opinião pública média trabalha mais ou menos como trabalha a mente humana média, que não é muito diferente de quando surgiu o homo sapiens. Ou seja, reage a ameaças imediatas muito tangíveis ou à imoralidade extrema. Esse tipo de coisa gera mobilização, revolta, revoluções. Agora, os limites planetários são ameaças complexas de médio e longo prazo, de difícil compreensão para a mente humana média. Então, a proporção de pessoas que conseguem compreender as ameaças globais e os limites planetários é muito pequena. Mas mesmo entre os cientistas que compreendem o problema, existem aqueles que não mudam suas atitudes e comportamentos em correspondência com o que estão compreendendo.
Objetivos do desenvolvimento sustentável
terceiro ponto pelo qual considero a Rio+20 um fracasso diz respeito ao fato de não ter havido definição dosobjetivos do desenvolvimento sustentável. Novamente definiram um processo para negociar os objetivos do desenvolvimento sustentável num prazo de dois a três anos. Mas não se estabeleceu nenhum parâmetro para essa negociação. Os mesmos impasses que estiveram presentes nas negociações dos objetivos da Rio+20 nos últimos dois anos continuam presentes.

Economia verde

quarto fator importante diz respeito à dificuldade de aceitar uma definição consistente, robusta e sustentável de economia verde, porque, por um lado, o conceito de desenvolvimento sustentável já é antigo, difuso e tem diversos significados. O conceito novo, que emergiu a partir de 2006, é o de transição para a economia de baixo carbono. Esse é um conceito preciso e consistente, porque tem métrica, mas ele é simplista, porque só avalia a questão do carbono, que é fundamental, mas não avalia o que seria uma economia sustentável, verde, tampouco considera a questão da água, da biodiversidade, do nitrogênio etc.

A ideia de definir uma economia verde, combinando o crescimento econômico dentro do espaço de operações seguro da humanidade, deveria levar em conta a economia verde de baixo carbono, mas numa perspectiva muito mais ampla. Entretanto, não houve o menor avanço nesse sentido, porque os países do G77, incluindo o Brasil, têm certa paranoia em relação à economia verde, porque pensam que ela irá servir aos interesses protecionistas dos países desenvolvidos. Se se definisse a economia verde em relação à definição científica dos limites planetários, e em relação ao princípio de equidade, que obviamente daria um espaço mais significativo para o crescimento econômico dos países pobres, menos para países emergentes, como Brasil China, e quase nada para países desenvolvidos, a economia verde seria uma definição extraordinária.

ONU

Rio+20 também confirmou o que já vinha sendo discutido, ou seja, de que o mecanismo das Cúpulas da ONU baseadas nas negociações de 200 atores diferentes, que devem estar de acordo num consenso mínimo comum de dominador, em vez de votação qualificada, não funciona mais. É uma perda de tempo. Esse tipo de conferência é hoje uma indústria de recursos.
Obviamente a Rio-92 foi importantíssima, porque aconteceu na saída da Guerra Fria, em que os problemas ambientais globais emergiam no mundo, e foi o primeiro momento no qual entraram no sistema internacional. Mas hoje, 20 anos depois, esse mecanismo precisa ser modificado. Pertenço a um grupo de cientistas que se chama Governança do Sistema Planetário, que publicou há três meses na revista Science um artigo muito importante que propõe uma reforma no sistema de governança global, difícil de realizar, mas necessária na agenda da humanidade, porque, do contrário, a humanidade não irá avançar.

IHU On-Line – Os países desenvolvidos argumentam que enfrentam uma crise econômica e que, por isso, não é possível avançar nas questões ambientais. A conjuntura internacional atual realmente atrapalhou o consenso de um documento final significativo e produtivo?

Eduardo José Viola – A crise econômica tem alguma significação, mas a crise poderia ter favorecido a criação de um fundo de apoio para a transição e adaptação das mudanças climáticas dos países pobres. Atualmente, o mundo enfrenta a terceira grande crise econômica mundial. A primeira foi em 1873, e terminou em 1890. A segunda iniciou em 1929, e terminou em 1939, com a eclosão da Segunda Guerra Mundial. Hoje estamos vivendo a terceira grande crise, que é profunda, e está relacionada à exaustão dos limites planetários. Essa visão é negada pelos grandes líderes mundiais, que querem recuperar a crise voltando ao passado, investindo em um crescimento convencional, quando se precisa superar a crise mudando radicalmente de paradigma. Mas essa visão é aceita por poucos países como os escandinavos, a Alemanha, a Coreia do Sul, e União Europeia.

IHU On-Line – Que lacuna fica aberta na Rio+20 em função do desinteresse de potências como China e EUA na temática ambiental?

Eduardo José Viola – Esse é um fator decisivo. Se China EUA tivessem tido uma posição como a da União Europeia, teria havido avanços na Rio+20, porque o mundo é uma estrutura assimétrica de países. Hoje existem três superpotências: EUA, China e União Europeia. Somente estes países têm condições de liderar o mundo. Depois, existe outro grupo de países que tem condições de ajudar a solucionar os problemas, que é formado pelo Japão, Rússia, Brasil, Índia e Coreia do Sul. Posteriormente, há uma série de potências médias importantes, como México, Indonésia, Turquia.

IHU On-Line – Das potências econômicas que existem hoje, por que somente a União Europeia propõe a criação de uma organização ambiental mundial?

Eduardo José Viola 
– É porque os países da União Europeia já cederam soberania nacional para criar uma estrutura supranacional. Ou seja, todos eles tiveram de abandonar parte do nacionalismo e ceder soberania. E agora, para superar essa crise no plano econômico e financeiro, terão de ceder ainda mais soberania, porque terão de passar não apenas para uma unidade monetária, mas também para uma unidade fiscal. A Europa irá na direção dos EUA ou irá se desintegrar.

As guerras mundiais do século XX entre países tão próximos e com culturas similares geraram uma cultura do horror e do que não se deve repetir mais, como manter a soberania absoluta, como foi no regime iniciado em Westfália, no século XVII. Quer dizer, uma catástrofe profunda gerou uma mudança de mentalidade dos países europeus. Mas isso não aconteceu nem nos EUA, nem na China, tampouco no Brasil.

IHU On-Line – Criou-se uma expectativa, quando Obama foi eleito, de que os EUA pudessem mudar a perspectiva ambiental, mas isso não ocorreu. Caso Obama seja reeleito, a política ambiental dos EUA tende a mudar?

Eduardo José Viola – No ano de 2009, primeiro ano do governo Obama, os EUA aprovaram a Lei Watson de mudanças climáticas, que não foi aprovada no Senado, mas que foi aprovada na Câmara dos Deputados. Porém, o governo de Obama foi se debilitando rapidamente por causa da crise econômica, do aumento do desemprego, que são produtos do governo Bush. Assim, seu governo não teve mais possibilidade de iniciativa em novembro de 2010, quando foi alvo do Partido Republicano. As coisas podem mudar nos EUA, mas isso não depende somente da reeleição deObama, mas também de maioria democrata na Câmara e no Senado. Além disso, Obama tem que escolher como prioridade as questões ambientais.

IHU On-Line – Qual foi o papel do Brasil na Conferência? Diria que o Brasil dialoga mais com a posição da União Europeia, dos EUA, ou ficou em cima do muro? Qual a posição internacional do Brasil nesse debate?

Eduardo José Viola – Trata-se de duas coisas. O documento original do Brasil, de novembro do ano passado, é muito atrasado em relação aos avanços conquistados nos anos de 2009 e 2010, que correspondiam à grande queda do desmatamento da Amazônia em 2005, ao fato de assumir compromissos voluntários de dramática redução da curva de crescimento de emissões, entre 2005 e 2010, e de criar uma lei de mudanças climáticas. Tudo isso representou um grande avanço, talvez o principal avanço da sociedade brasileira em termos ambientais. Para que esses avanços ocorressem, foi importante a contribuição de uma série de fatores, tais como a ação muito incisa do ex-ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e a ameaça da candidatura presidencial de Marina Silva.

Participação brasileira 

Agora, porém, a posição do Brasil na conferência foi bem mais conservadora, tentando separar totalmente o debate da mudança climática da Rio+20, tentando diluir o componente ambiental do evento, enfatizando sempre o componente social. Podem ver que o documento brasileiro falava do Programa Bolsa Família e não falava da lei de mudança climática. Isso nos dá uma ideia de como o documento foi enviesado na direção desenvolvimentista tradicional. O que o Brasil fez, em grande medida, foi tentar diminuir ao máximo o componente ambiental e global da Conferência. E isso tem a ver com o fato de que a presidente Dilma e o núcleo do governo tem uma visão bem tradicional do desenvolvimento econômico. O poder do Ministério do Meio Ambiente, hoje, é muito menor do que o era em 2009 e 2010, ou na época anterior de Marina Silva. Então, se vê que nos últimos dois anos que o Brasil adotou uma política industrial convencional de promover a produção do país, independentemente da condicionalidade da eficiência energética, pois tem um subsídio gigantesco ao lobby automobilístico.

No mesmo dia em que terminou a Rio+20, o Brasil eliminou um imposto sobre combustível para o transporte público. Investe-se somente no carro, e o problema do transporte público se tornou muito mais grave. O objetivo do governo é crescer economicamente, pois estão desesperados, porque não crescem.

Depois, durante a dinâmica processual da negociação, o Brasil optou pelo caminho de menor risco, ou seja, em lugar de tentar se colocar como o mediador da conferência e contribuir para a produção de um documento mais ambicioso, derrotando os setores mais conservadores, optou pelo consenso a qualquer preço, ou seja, um consenso do nada ou quase nada. Trata-se, portanto, de um documento que não tem a menor relevância, porque só reafirma o passado. E ninguém explica porque as decisões tomadas há muitos anos não se realizaram. Essa é uma posição não só do governo, mas do Itamaraty, porque a cultura do Itamaraty é avessa ao risco.

IHU On-Line – O senhor menciona a necessidade de criar uma organização poderosa do meio ambiente, com a introdução de limites planetários nas diversas atividades econômicas. Como seria essa organização e que limites para as atividades econômicas seriam necessárias caso pensássemos em possíveis soluções para as mudanças climáticas? 

Eduardo José Viola – A primeira coisa fundamental é uma política massiva mundial de direitos reprodutivos da mulher, para se chegar a uma fecundidade responsável. Hoje, no início do século XXI, a única fecundidade responsável é a de dois filhos por mulher, ou menos. A população do mundo era 5.5 bilhões de habitante em 1992, e é de 7 bilhões atualmente, ou seja, houve um crescimento extraordinário. O Brasil não tem mais problemas com essa questão, porque a fecundidade brasileira é 1.8, porque avançou nos direito reprodutivos das mulheres. A história mostra que, quando a mulher tem educação, status de independência, ela quer ter poucos filhos.

Essa é uma questão fundamental em relação à sustentabilidade, mas que foi retirada da declaração da Rio+20, e nessa discussão os EUA tiveram  uma posição muito progressista, por causa do Obama.

Crescimento 

segundo ponto fundamental é avançar na ideia de prosperidade sem crescimento. Ou seja, existem países que não precisam mais crescer significativamente em termos de matérias, em termos econômicos, no uso de energia, de recursos naturais, porque já têm populações estabilizadas, possuem boa infraestrutura. Então, eles têm de ir reformando as suas infraestruturas para torná-las mais sustentáveis. Através da “economia verde” esses países não precisam mais crescer no sentido tradicional; sua dinâmica econômica pode ser de contínua redução de emissões de carbono.

Os países de renda média têm de crescer ainda, porque são muito desiguais: parte da população tem um nível de vida, e outra tem outra. Mas esses países têm de crescer de um modo muito diferente de como cresciam no passado. Não pode ser um crescimento intensivo em carbono, tem de ser um crescimento baseado em novas tecnologias, em fontes de energias renováveis. Esse é o ponto-chave.

Os países pobres, em geral, enfrentam um problema muito grande de governabilidade, têm altíssima corrupção, muitos já estão falidos. Eles precisam de um grande apoio da comunidade internacional para construir governança.

IHU On-Line – A Rio+20 colocou mais luz ou mais sombra sobre a possibilidade de organização de uma governança ambiental global? 

Eduardo José Viola – A Rio+20 foi, de um lado a Conferência Intergovernamental e, de outro, a conferência paralela daCúpula dos Povos, incluindo os setores científico, empresarial e movimentos sociais. Eu participei de onze eventos paralelos durante duas semanas, do dia 8 de junho a 22 de junho. Havia pelo menos quatro mil eventos paralelos, tanto no Riocentro como em outros lugares do Rio de Janeiro, além da Cúpula dos Povos, no aterro do Flamengo.

Esses eventos mostraram uma vibração muito grande da sociedade em relação à consciência do problema ambiental, ao desapontamento da dinâmica governamental, e a tentativa de encontrar novos caminhos. Nesse sentido, essas conferências paralelas formaram forças reformistas internacionais, porque são praticamente transnacionais, atravessam todos os países. Mas até essas forças não se tornarem maioritárias, não mudarão a dinâmica intergovernamental, porque os governos, em grande medida, representam as suas sociedades. O atraso do governo representa o atraso da sociedade na compreensão e enfrentamento dos problemas. Quando falamos da sociedade civil, estamos falando de uma sociedade minoritária, militante, consciente, muito preocupada com o bem público. Mas isso não representa toda a sociedade e a população mundial.

Para responder em síntese a essa pergunta, a construção de governança global ficou mais longe, porque foi uma conferência inútil do ponto de vista intergovernamental, a qual pode gerar cinismo, o pior que pode acontecer. Há pessoas conscientes que já não acreditam mais em nada e se retiram da vida pública. Do ponto de vista não governamental, dos diversos segmentos não governamentais, essa conferência aumentou a capacidade de rede, a capacidade de empoderamento de todos esses setores e fez aumentar, mesmo que lentamente, as forças que são reformistas na direção de uma sociedade sustentável em escala global

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